WARU WARUS – ALIMENTO NO MUNDO PRÉ-COLOMBIANO
Texto: Dalton Delfini Maziero
(Coluna América Misteriosa: https://www.pagina3.com.br/coluna/americamisteriosa)
Em 1997, quando contornei a pé o Lago Titicaca (Peru/Bolívia), tive a oportunidade de conhecer uma das maiores criações do mundo pré-colombiano: os Waru Warus ou Camellones, como também são conhecidos. Trata-se de um sistema de plantio que não foi superado por nenhum outro povo do passado. Eu os vi em pleno Altiplano, em um experimento comunitário.
Existem camellones de vários tamanhos. Os maiores foram localizados nas proximidades da antiga Tiwanaku, na Bolívia. Possuíam 50 metros de largura por 200 de comprimento. O termo “camellones” provém de sua semelhança às corcovas de um camelo. Na verdade, são plataformas artificiais, construídas em camadas, aproveitando terrenos baixos e alagados. Essa fabulosa engenharia agronômica foi aplicada principalmente para o plantio de batatas e quinua. Para se ter uma ideia de seu potencial, basta fazer uma comparação: em terreno normal, um hectare produz 2 mil quilos de batata; nos camellones essa produção sobre para 20 mil quilos!
Em 1920, o arqueólogo Max Uhle chamou a atenção para o potencial dos waru warus. Em recentes experimentos governamentais, vi fotos de batatas enormes, quase do tamanho da cabeça de uma pessoa. Vestígios desse sistema forma encontrados em uso no ano 1000 aC. Com isso, muitos conseguiram uma superprodução agrícola. O segredo do sistema está na criação de morros artificiais entremeados por canais de água. Dentro desses morros, foram encontrados quatro estratos: ao nível d'água (base), colocavam uma camada de pedras. Por cima desta, uma de argila impermeável. Em seguida, vinham duas camadas de cascalho, sendo a de cima mais fina. Por cima de tudo, vinha a terra para o plantio. O sistema foi utilizado pelos povos chiripa, púcara, tiwanaku, colla, pacajes, lupacas, entre outros. Além da superprodução resultante, este sistema tem outras vantagens para a região: com a distribuição das águas, cria-se um microclima que ameniza as bruscas mudanças, inclusive sobre os efeitos da geada. Permite trazer para cima, uma terra considerada menos alcalina. Protege a terra de inundações, aproveitando terrenos em desuso. Amenizam a estiagem com as águas acumuladas nos canais e recuperam drenagem deficiente.
O homem andino é agricultor por tradição. Se ele atingiu o conhecimento necessário para dominar o meio ambiente do Altiplano foi, certamente, às custas de muito trabalho e observação. Olhando para o céu, sabe exatamente quando e como plantar. As técnicas desenvolvidas foram resultado dessas observações por centenas de anos. Trabalhando em conjunto, previne-se contra geadas e intempéries com criatividade e sabedoria. Ao plantar, nunca o faz em um único local. Diferentes sementes são cultivadas em diferentes terrenos. Ao pressentir uma geada, saem para acender suas fogueiras. A fumaça - sabe o andino - altera o clima, criando uma barreira contra geadas. Neste mundo hostil, alguns produzem mais do que os outros; mas no final, ninguém morre de fome.
Fonte: https://www.pagina3.com.br/coluna/americamisteriosa
tiferquaede Christian Blasko link
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