KOTOSH E O TEMPLO DAS MÃOS CRUZADAS
Por: Dalton Delfini Maziero - 08.11.2023
Perto da cidade de Huánuco (Peru), encontra-se Kotosh, um dos mais antigos sítios arqueológicos do país. Sua construção remonta a 2.000 anos a.C., e não se sabe até hoje qual foi o povo que o habitou, motivo pelo qual o grupo que o construiu é referenciado genericamente como Tradição Religiosa Kotosh; ou seja, um dos inúmeros locais que partilham de mesmas características culturais de tantos outros centros.
Kotosh foi um daqueles lugares divididos em diversas fases de desenvolvimento e ocupados por grupos claramente diferentes ao longo dos milênios. Prova disso são as fases Mito (2000-1500), Wairajirca (1500-1000), Kotosh (1000-700), Chavín (700-250) e outras posteriores já numa época de abandono do sítio. Em cada uma delas, uma mudança marcada pela remodelação do templo principal ou pela mudança no estilo de cerâmica. Pertencentes a esta mesma tradição religiosa, podemos mencionar La Galgada, Huaricoto, Wairajirca e Shillacoto.
A Tradição Religiosa Kotosh está associada a tradição Mito, com templos em forma quadradas e uma espécie de poço central onde queimava o fogo sagrado de oferendas. Ao redor deste, pequenas banquetas reuniram certamente a nata social daquele grupo, que presenciava os rituais propiciatórios. Infelizmente temos pouquíssimas informações sobre como esses rituais de fato ocorriam.
Entre 2000 e 1500 a.C., existiram três templos em Kotosh, sendo o mais famoso o chamado Templo da Mãos Cruzadas, por possuir um relevo com dois braços cruzados em uma das paredes. Esta é, provavelmente, a escultura mais antiga encontrada no Peru. O templo é um quadrado quase perfeito (9,5 x 9,3 metros) e suas paredes atingiram a altura de 2,8 metros. Respeitando a tradição Mito, seu piso era dividido em dois níveis, com o poço para queima de oferendas situando-se no piso mais baixo.
Seja como for, existiu um templo mais antigo abaixo das “Mãos Cruzadas” chamado Templo Branco, que foi enterrado com parte de um ritual planejado. O enterramento ritual de um templo era coisa séria! Existiu um complexo ritual de despedida, que incluía a cobertura do templo antigo com areia fina até a altura de 1 metro; depois vinha uma camada de terra até o teto, seguida de outra camada de terra avermelhada de 60 cm onde se construía o poço para o fogo sagrado. Após sua instalação, mais duas camadas finas - de cinzas e de terra vermelha – eram aplicadas. Desta forma, se instalava um novo templo.
A partir de 1500 a.C., começa uma nova fase em Kotosh com a inclusão da cerâmica, que nos séculos seguintes mudou de estilo, aproximando-se da cultura Chavin e, por fim, distanciando-se dela na virada do milênio. Hoje, mesmo com a descoberta de outros sítios arqueológicos semelhantes a Kotosh, este é considerado um dos mais importantes do Peru, por carregar em si, as bases da cultura peruana.
Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor,
especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos
e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)
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