TESOUROS DA CIVILIZAÇÃO COCLÉ
Por: Dalton D. Maziero (16/12/2024)
Quando falamos na civilização Coclé (Panamá), logo a associamos a refinados artefatos em ouro e elaboradas cerâmicas policromadas ilustradas com seres míticos e antropomorfos. O local mais representativo dos Coclé’s continua sendo o sítio arqueológico de Conte. Porém, ele ainda é bastante desconhecido do grande público por não possuir ruínas ou estruturas que o identifiquem. Na verdade, podemos definir Conte como uma gigantesca necrópole. Embora a maior frequência de uso desta necrópole esteja datada entre 450 e 900 d.C.; sabemos pelos restos orgânicos (lixo doméstico) encontrados no local que ele foi ocupado até 1500 d.C.
As ricas sepulturas existentes nesta região não foram exatamente localizadas através de escavações arqueológicas. No final do século XIX – e novamente em 1927 – o Rio Grande de Coclé mudou de curso, escavando naturalmente parte do terreno e levando o conteúdo de várias sepulturas rio abaixo. Desta forma, moradores ribeirinhos começaram a encontrar em suas águas, cerâmicas refinadas e artefatos em ouro. A descoberta chamou a atenção do Museu Peabody (Harvard, EUA) que organizou uma escavação arqueológica no local em 1930, sendo esta também a primeira escavação científica realizada no Panamá. Em 1933 ocorreram novas escavações, totalizando 59 sepulturas descobertas além de inúmeros enterramentos – cerca de 38 – dispersos contendo artefatos refinados. Em 1940 uma equipe de arqueólogos do Museum of Archaeology and Anthropology (Philadelphia, EUA) desenterrou mais 41 sepulturas onde, além das cerâmicas policromadas e artefatos em ouro, foram também encontradas mais de 200 ossadas de cães e uma infinita quantidade de dentes caninos que ornamentavam colares e vestimentas.
As sepulturas localizadas continham uma enormidade de objetos, como peitorais, pingentes, placas e contas em ouro, centenas de pratos e tigelas cuidadosamente dispostos ao lado do falecido, vasos em cerâmica, hastes de orelhas, esmeraldas, cascos de tartaruga, roupas recobertas de dentes caninos, pingentes de ossos, dentes de baleia, espinhas de arraia, lâminas de pedra e uma peça conhecida como “celtas”, que se assemelham a um machado ou enxada. Algumas sepulturas continham milhares de peças e dezenas de corpos. Alguns deitados de bruços lado a lado, outros em posição sentada, outros com os corpos deitados uns sobre o outro. Alguns – talvez o ocupante principal – enterrados dentro de uma simulação de cabana. Muitas sepulturas estavam organizadas em camadas, separadas por lajes, cada uma delas sobrepostas às mais antigas, contendo outro agrupamento de pessoas com seus respectivos bens.
Contudo, as escavações realizadas nos anos de
1930-1940 foram duramente criticadas posteriormente, pela imprecisão e falhas
científicas de procedimento. O próprio arqueólogo John Alden Mason –
responsável pela missão de 1940 – admitiu posteriormente que perdeu o controle
sobre sua equipe tamanha a quantidade de ouro encontrada nas sepulturas. Desta
forma, muitos artefatos como pratos e vasos em cerâmica foram retirados às
pressas, sem qualquer tipo de registro, apenas para a verificação da existência
de mais ouro nas camadas abaixo.
Quanto a cerâmica policromada Coclé, ela seguramente está entre as mais belas e criativas do mundo pré-colombiano. Além do uso de imagens abstratas, elas mostram figuras antropomorfas e representações estilizadas de animais como morcegos, cobras, pássaros, tartarugas, insetos, macacos, tatus, caranguejos, sapos, tubarões, crocodilos e veados.
Em 1924, uma nova sepultura foi localizada, mas não em Conte. O local é conhecido como El Caño e revelou uma sepultura contendo inúmeros corpos. Segundo Julia Mayo (Fundação El Caño), a tumba data de 750 d.C. e já foram resgatados pulseiras, brincos, contas em ouro, peitorais, dentes de cachalote, chocalhos, flautas esculpidas em ossos e uma tanga feita com dentes e cachorro. O suposto líder foi enterrado de cabeça para baixo, sobre o corpo de uma mulher. As escavações continuam em El Caño e prometem novas descobertas em breve.
Quanto ao sítio de Conte, embora tenha sido alvo de huaqueros – caçadores de tesouros – desde a década de 1930, nenhuma outra escavação arqueológica oficial foi ali realizada. Hoje a região pertence a particulares que a utiliza como campo agrícola.
Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor,
especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos
e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)
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