Pescador e antropólogo mostra os mistérios arqueológicos da Ilha de Santa Catarina
Adnir em uma das pedras estudadas na trilha da Galheta. Foto: Cristiano Estrela / Diário Catarinense
Pescador da Fortaleza da Barra decidiu ir atrás das histórias das inscrições registradas nas pedras de parte do litoral catarinense
Rafael Thomé
rafael.thome@somosnsc.com.br
Pescar das gravuras rupestres e dos monumentos megalíticos uma mensagem para a vida. Este é o propósito de Adnir Antonio Ramos, pescador da Fortaleza da Barra, em Florianópolis, que em 1986 decidiu estudar biblioteconomia e antropologia para tentar entender o que significavam aquelas inscrições nas pedras que tanto via quando saía para fisgar peixes. Agora, ele se prepara para lançar o livro Divino Gênese sobre a história destas misteriosas mensagens que remontam a cerca de 10 mil anos atrás.
Conta Adnir que os morros e costões do litoral de SC escondem desenhos rupestres e observatórios astronômicos que podem conter uma mensagem sobre o ciclo da vida e o futuro da humanidade. Milhares de anos antes da chegada do bandeirante paulista Francisco Dias Velho, em 1673, quando se deu início ao povoamento moderno da Ilha de SC, o Homem do Sambaqui habitava este pedacinho de terra perdido no mar e procurava entender-se como parte da natureza e do universo.
– Podem ter sido os homens do sambaqui, mas não sabemos exatamente quando e quem colocou essas gravuras e esses observatórios. O que importa mesmo é a mensagem que deixaram – afirma Adnir.
Registros entre 8 mil e 13 mil anos de história
De acordo com o antropólogo, calcula-se que esses monumentos arqueológicos tenham entre 8 mil e 13 mil anos de idade. Antes disso, o nível do mar era mais alto e não seria possível colocá-los onde estão. Para Adnir, uma das interpretações possíveis diz respeito ao final do ciclo de vida da humanidade.
– Eu acho que a mensagem é esta: a humanidade precisa reconhecer que existiram sociedades inteligentes que trabalharam para que a humanidade sobreviva quando a Terra passe por processos geológicos que podem nos levar à extinção. Acredito que esses processos aconteçam em ciclos de 12 ou 13 mil anos, que é o tempo corrido desde o último degelo – comenta, em referência ao fim da última era glacial cerca de 12 mil anos atrás.
Pouco se sabe sobre os hábitos, a cultura e a rotina do Homem do Sambaqui. Objetos deixados para trás e agora encontrados por arqueólogos dão pistas sobre a vida social naquela época, mas há mistérios que a ciência moderna ainda não desvendou. Um deles, em Florianópolis, são os observatórios astronômicos construídos com pedras de dezenas de toneladas.
Na trilha da Galheta, no leste da Ilha, há um observatório de onde se pode ver o alinhamento do sol com as pedras em algumas datas do ano – equinócios de primavera e do outono, quando o dia e a noite têm duração igual (exatamente 12 horas), e solstícios de verão e inverno, quando os dias têm a maior (no verão) ou a menor (no inverno) duração ao longo do ano. O próximo acontecerá no dia 22 de setembro, data do equinócio de primavera.
– Eu não sabia que o sol, a lua e as estrelas faziam esses movimentos aparentes (aparentes porque, na verdade, os movimentos que mais influenciam esses fenômenos são os da própria Terra – rotação, translação e precessão). Comecei a perceber isso à medida que comecei a vir para cá. Posso dizer que fui iluminado pelo conhecimento – afirma Adnir.
Formato das pedras na trilha da Galheta intriga o pesquisador. Foto: Cristiano Estrela / Diário Catarinense
Pedras misteriosas
No observatório da Galheta há dois tipos de monumentos: os dólmens (no bretão, dol = mesa e men = pedra), como aqueles famosos de Stonehenge, na Inglaterra, e os menires (no bretão, men = pedra e hir = longa), geralmente associados ao culto da fecundidade. São pedras aparentemente colocadas em uma certa disposição, com o intuito de aproximar os homens das divindades e dos ciclos universais.
– Essas pedras estão espalhadas pelo mundo inteiro. Evidentemente, não são formações naturais, elas foram colocadas nesses lugares. Geralmente estão apoiadas em três bases, como a Pedra Virada, aqui na Galheta, ou a Pedra do Frade, em Laguna. Pelas “frestas” das pedras, se enxerga o nascer do sol nas datas importantes para os ciclos da vida – comenta o antropólogo.
Ao longo da pesquisa, Adnir chegou à conclusão de que os observatórios astronômicos e as gravuras rupestres que estão espalhados por quase todo o litoral catarinense tratam de um calendário da fecundidade, que também pode estar relacionado aos ciclos de plantio e colheita de alimentos.
– Esses povos que viveram na pré-história utilizaram esse calendário para gerar as famílias na época certa e ter filhos saudáveis. Se a mulher é fecundada no inverno, ela vai passar o verão inteiro na gestação, com calor em excesso. O incômodo passa para o filho. Por outro lado, se você planta alguma coisa no inverno, custa para se desenvolver. Se plantar na primavera, vai se desenvolver com força. Tal qual funciona o ciclo das plantas, o nosso também – explica.
Adnir mostra as inscriçõesFoto: Cristiano Estrela / Diário Catarinense
Saiba onde estão localizados os observatórios
Quem ficou curioso e quer ver de perto todos esses monumentos pode conferir diretamente nos locais. As gravuras rupestres em baixo relevo estão em boa parte do litoral catarinense: Ilha de Porto Belo, Ilha do Arvoredo, Ponta das Canas, Ingleses, Santinho, Ilha das Aranhas, Barra da Lagoa, Galheta, Praia Mole, Joaquina, Campeche, Ilha do Campeche, Armação, Pântano do Sul, Ilha das Irmãs, Ilha do Papagaio, Pinheira, Guarda do Embaú, Garopaba e Ilha dos Corais.
Quanto aos observatórios arqueoastronômicos, o mais significativo fica no morro da Galheta, em Florianópolis. Para chegar até lá pode-se ir pela trilha pública que se inicia no final da Fortaleza da Barra ou pela trilha do Instituto Multidisciplinar de Meio Ambiente e Arqueoastronomia (Imma), no começo da Fortaleza da Barra.
No Imma, além da trilha, há um museu com uma coleção de arte rupestre com a reprodução de quase todos os painéis que existem na Ilha de Santa Catarina, além de artefatos cotidianos como pontas de machado e relógios solares. Se marcar com antecedência, é possível combinar uma visita guiada com o antropólogo Adnir Ramos. A entrada custa R$ 10. Mais informações pelos telefones: (48) 99607-2201 e (48) 99621-8298.
Fonte: http://horadesantacatarina.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2018/08/pescador-e-antropologo-mostra-os-misterios-arqueologicos-da-ilha-de-santa-catarina-10538291.html (16/08/2018)
Pescador da Fortaleza da Barra decidiu ir atrás das histórias das inscrições registradas nas pedras de parte do litoral catarinense
Rafael Thomé
rafael.thome@somosnsc.com.br
Pescar das gravuras rupestres e dos monumentos megalíticos uma mensagem para a vida. Este é o propósito de Adnir Antonio Ramos, pescador da Fortaleza da Barra, em Florianópolis, que em 1986 decidiu estudar biblioteconomia e antropologia para tentar entender o que significavam aquelas inscrições nas pedras que tanto via quando saía para fisgar peixes. Agora, ele se prepara para lançar o livro Divino Gênese sobre a história destas misteriosas mensagens que remontam a cerca de 10 mil anos atrás.
Conta Adnir que os morros e costões do litoral de SC escondem desenhos rupestres e observatórios astronômicos que podem conter uma mensagem sobre o ciclo da vida e o futuro da humanidade. Milhares de anos antes da chegada do bandeirante paulista Francisco Dias Velho, em 1673, quando se deu início ao povoamento moderno da Ilha de SC, o Homem do Sambaqui habitava este pedacinho de terra perdido no mar e procurava entender-se como parte da natureza e do universo.
– Podem ter sido os homens do sambaqui, mas não sabemos exatamente quando e quem colocou essas gravuras e esses observatórios. O que importa mesmo é a mensagem que deixaram – afirma Adnir.
Registros entre 8 mil e 13 mil anos de história
De acordo com o antropólogo, calcula-se que esses monumentos arqueológicos tenham entre 8 mil e 13 mil anos de idade. Antes disso, o nível do mar era mais alto e não seria possível colocá-los onde estão. Para Adnir, uma das interpretações possíveis diz respeito ao final do ciclo de vida da humanidade.
– Eu acho que a mensagem é esta: a humanidade precisa reconhecer que existiram sociedades inteligentes que trabalharam para que a humanidade sobreviva quando a Terra passe por processos geológicos que podem nos levar à extinção. Acredito que esses processos aconteçam em ciclos de 12 ou 13 mil anos, que é o tempo corrido desde o último degelo – comenta, em referência ao fim da última era glacial cerca de 12 mil anos atrás.
Pouco se sabe sobre os hábitos, a cultura e a rotina do Homem do Sambaqui. Objetos deixados para trás e agora encontrados por arqueólogos dão pistas sobre a vida social naquela época, mas há mistérios que a ciência moderna ainda não desvendou. Um deles, em Florianópolis, são os observatórios astronômicos construídos com pedras de dezenas de toneladas.
Na trilha da Galheta, no leste da Ilha, há um observatório de onde se pode ver o alinhamento do sol com as pedras em algumas datas do ano – equinócios de primavera e do outono, quando o dia e a noite têm duração igual (exatamente 12 horas), e solstícios de verão e inverno, quando os dias têm a maior (no verão) ou a menor (no inverno) duração ao longo do ano. O próximo acontecerá no dia 22 de setembro, data do equinócio de primavera.
– Eu não sabia que o sol, a lua e as estrelas faziam esses movimentos aparentes (aparentes porque, na verdade, os movimentos que mais influenciam esses fenômenos são os da própria Terra – rotação, translação e precessão). Comecei a perceber isso à medida que comecei a vir para cá. Posso dizer que fui iluminado pelo conhecimento – afirma Adnir.
Formato das pedras na trilha da Galheta intriga o pesquisador. Foto: Cristiano Estrela / Diário Catarinense
Pedras misteriosas
No observatório da Galheta há dois tipos de monumentos: os dólmens (no bretão, dol = mesa e men = pedra), como aqueles famosos de Stonehenge, na Inglaterra, e os menires (no bretão, men = pedra e hir = longa), geralmente associados ao culto da fecundidade. São pedras aparentemente colocadas em uma certa disposição, com o intuito de aproximar os homens das divindades e dos ciclos universais.
– Essas pedras estão espalhadas pelo mundo inteiro. Evidentemente, não são formações naturais, elas foram colocadas nesses lugares. Geralmente estão apoiadas em três bases, como a Pedra Virada, aqui na Galheta, ou a Pedra do Frade, em Laguna. Pelas “frestas” das pedras, se enxerga o nascer do sol nas datas importantes para os ciclos da vida – comenta o antropólogo.
Ao longo da pesquisa, Adnir chegou à conclusão de que os observatórios astronômicos e as gravuras rupestres que estão espalhados por quase todo o litoral catarinense tratam de um calendário da fecundidade, que também pode estar relacionado aos ciclos de plantio e colheita de alimentos.
– Esses povos que viveram na pré-história utilizaram esse calendário para gerar as famílias na época certa e ter filhos saudáveis. Se a mulher é fecundada no inverno, ela vai passar o verão inteiro na gestação, com calor em excesso. O incômodo passa para o filho. Por outro lado, se você planta alguma coisa no inverno, custa para se desenvolver. Se plantar na primavera, vai se desenvolver com força. Tal qual funciona o ciclo das plantas, o nosso também – explica.
Adnir mostra as inscriçõesFoto: Cristiano Estrela / Diário Catarinense
Saiba onde estão localizados os observatórios
Quem ficou curioso e quer ver de perto todos esses monumentos pode conferir diretamente nos locais. As gravuras rupestres em baixo relevo estão em boa parte do litoral catarinense: Ilha de Porto Belo, Ilha do Arvoredo, Ponta das Canas, Ingleses, Santinho, Ilha das Aranhas, Barra da Lagoa, Galheta, Praia Mole, Joaquina, Campeche, Ilha do Campeche, Armação, Pântano do Sul, Ilha das Irmãs, Ilha do Papagaio, Pinheira, Guarda do Embaú, Garopaba e Ilha dos Corais.
Quanto aos observatórios arqueoastronômicos, o mais significativo fica no morro da Galheta, em Florianópolis. Para chegar até lá pode-se ir pela trilha pública que se inicia no final da Fortaleza da Barra ou pela trilha do Instituto Multidisciplinar de Meio Ambiente e Arqueoastronomia (Imma), no começo da Fortaleza da Barra.
No Imma, além da trilha, há um museu com uma coleção de arte rupestre com a reprodução de quase todos os painéis que existem na Ilha de Santa Catarina, além de artefatos cotidianos como pontas de machado e relógios solares. Se marcar com antecedência, é possível combinar uma visita guiada com o antropólogo Adnir Ramos. A entrada custa R$ 10. Mais informações pelos telefones: (48) 99607-2201 e (48) 99621-8298.
Fonte: http://horadesantacatarina.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2018/08/pescador-e-antropologo-mostra-os-misterios-arqueologicos-da-ilha-de-santa-catarina-10538291.html (16/08/2018)
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