OS PETROGLIFOS ASTRONÔMICOS DE MESA VERDE


Por: Dalton Maziero - 17.01.2024

Na arqueologia, os dados antes coletados em um antigo local precisam ser revistos de tempos em tempos. Um sítio arqueológico, mesmo que amplamente estudado e transformado em atração turística ou parque público, pode oferecer surpresas e novas informações que nos fazem rever antigos conceitos. Este foi o caso do Parque Nacional Mesa Verde, na fronteira entre o Colorado e Utah (EUA), uma região habitada por diversos povos pré-colombianos de refinada arte e conhecimento.  

Uma equipe de arqueólogos da Polônia (Jagiellonian University), liderados por Radoslaw Palonka, escava a região a mais de uma década e propôs unir tecnologia em mapeamento digital ao conhecimento das comunidades nativas locais para reavaliar o estudo dos petróglifos conhecidos, como os de Castle Rock Pueblo, em Mesa Verde. Para surpresa dos arqueólogos, além de novos petróglifos pertencentes ao século III d.C., foram encontrados outros datados do século XIII (auge das atividades do povo Pueblo) em um local de difícil acesso.

A sociedade Pueblo teve seu auge na região entre os século XII e XIII, e são conhecidos pela sua incrível capacidade arquitetônica de criar povoados em penhascos e lugares inacessíveis, inclusive com residências construídas em diversos andares. Na verdade, os pueblos são resultado de três outros grandes povos – Mogollon, Hohokam e  Anasazi – que delegaram seus conhecimentos, tradições e arte ao grupo social que seria chamado genericamente de Pueblo.

Durante séculos, esse povo plantou nos platôs da região, abrigando-se em cavidades e fendas onde ampliavam as construções com quartos, celeiros e espaços coletivos/sagrados. Nas rochas desses penhascos, registraram petróglifos e pinturas rupestres com imagens de sua vida cotidiana, em desenhos complexos que misturavam observações astronômicas com figuras geométricas. Alguns deles são formados por espirais com mais de 1 metro de diâmetro e podem estar relacionadas a presença dos solstícios de verão e inverno, e dos equinócios de primavera e outono.

Ao que tudo indica, as galerias inacessíveis – que incluem Sand Canyon, Graveyard Canyon e Rock Creek Canyon – já eram utilizadas por um grupo anterior ao Pueblo, conhecido como Cesteiros, que costumavam representar xamãs e guerreiros no longínquo século III d.C. Além destes, foram encontradas representações posteriores de animais como veados, ovelhas e bisontes, além de caça a cavalo, originários do povo Ute, que viveu no mesmo local entre os séculos XV e XVII.

Graças à colaboração permanente das comunidades locais, formada por Utes e Hopis, descobriu-se esse “novo” conjunto de petróglifos desconhecidos à 800 metros acima dos penhascos habitados. Segundo Palonka, os painéis grafados estendem-se por mais de 4 km, ocupando o planalto e mostrando sem sombras de dúvidas que as atividades que o geraram incluíam a observação celeste. Tais descobertas obrigam os arqueólogos e historiadores a reverem seus conceitos quanto a sofisticação das práticas rituais dos Pueblos, assim como sua própria densidade demográfica.

O objetivo da pesquisa agora – com a colaboração dos atuais nativos e de uma equipe de técnicos da Universidade de Houston (EUA) – será construir um mapa 3D detalhado com a leitura da tecnologia conhecida como LiDAR (Light Detection and Ranging) que é capaz de rastrear construções em lugares inacessíveis, abaixo das copas de árvores em uma floresta ou mesmo abaixo da terra. O resultado final de tudo isso será transformado em uma exposição permanente do museu local do Parque Nacional Mesa Verde.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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