Um mundo amazónico que prosperou durante séculos está a reaparecer na Bolívia
ZAP – 03/12/2025
Toda uma arquitetura de terra surgiu sob ervas altas e águas rasas. Visto do ar, percebe-se que formas geométricas controlavam cheias, orientavam o fluxo da água e criavam áreas estáveis para habitação e agricultura num ambiente que muda radicalmente ao longo do ano.
Sem destruir os ecossistemas, sociedades indígenas da Amazónia boliviana transformaram os pântanos em territórios altamente produtivos durante séculos.
A descoberta é recente e ocorreu numa das zonas menos documentadas da Amazónia boliviana, nos Grandes Lagos Tectónicos de Exaltación. Em setembro de 2021, uma expedição levou especialistas da Wildlife Conservation Society (WCS), do Museu Nacional de História Natural, do Instituto de Ecologia, de centros de investigação em biodiversidade e recursos aquáticos e da Universidade de Bona até aos lagos Rogaguado e Ginebra, no sudoeste amazónico.
À primeira vista, a paisagem é composta por savanas,
florestas-galeria e planícies alagadas. Mas sob as ervas altas e as águas pouco
profundas esconde-se uma verdadeira arquitetura de terra,
construída ao longo de muitas gerações, apontam os investigadores ao Science Daily.
Com base em levantamentos de campo, escavações arqueológicas e tecnologia LiDAR, os cientistas cartografaram vários sítios (Paquío, Coquinal, Isla del Tesoro e Jasschaja) que documentam uma longa sequência de ocupação humana entre cerca de 600 e 1400 d.C.
Em Paquío, os dados de radiocarbono apontam para um povoamento inicial por volta de 600 d.C., seguido de uma fase mais intensa entre 1000 e 1200 d.C., marcada por grandes acumulações de cerâmica, conchas e um intrincado sistema de campos elevados e canais associados ao cultivo de milho. Jasschaja, datado entre 1300 e 1400 d.C., revela transformações ainda mais profundas na paisagem e uma maior diversidade botânica, indícios de uma gestão ativa das florestas e das culturas agrícolas.
Vista do ar, a região dos Llanos de Moxos é marcada por formas geométricas: valas circulares e retangulares, canais de drenagem, plataformas de plantio elevadas e conjuntos de montículos. O mosaico de estruturas foi concebido para controlar as cheias sazonais, orientar o fluxo da água e criar áreas estáveis para habitação e agricultura num ambiente que muda radicalmente ao longo do ano.
A variedade de formas e tamanhos mostra que não existiu um modelo único; pelo contrário, as comunidades foram ajustando e experimentando soluções ao longo de séculos, em resposta a condições ecológicas e sociais em mutação.
Como estas comunidades viviam
As escavações revelaram um modo de vida baseado na diversidade de recursos. Os restos de fauna indicam um consumo predominante de peixe, complementado por répteis (jacarés e tartarugas) e mamíferos como capivaras, pacas e tatus. As sementes e outros vestígios vegetais mostram o uso de milho, leguminosas e várias espécies de palmeiras.
O conjunto aponta para uma economia mista que combinava pesca, caça, recolha de frutos e agricultura, reduzindo riscos e aumentando a resiliência, aponta o estudo publicado na Frontiers.
Atualmente, os povos Cayubaba e Movima continuam a habitar estes territórios, onde a biodiversidade está intimamente ligada às práticas culturais. A área integra a Zona Protegida Municipal dos Grandes Lagos Tectónicos de Exaltación e o complexo de zonas húmidas Ramsar do rio Yata, reconhecido pela UNESCO pelo seu valor ecológico e cultural.
Fonte: Ummundo amazónico que prosperou durante séculos está a reaparecer na Bolívia -ZAP Notícias

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