Tula, capital do povo Tolteca (Especial Viagem ao México)

Vista geral dos "Atlantes" de Tula.

Texto: Dalton Delfini Maziero
Fotos: Dalton Delfini Maziero / Sandra Regina Orsini Maziero

O presente artigo faz parte do diário de viagem do autor ao México, realizado no mês de outubro de 2012.

Tula – ou Tula de Allende – é uma cidade que fica a 85km da Cidade do México. Para quem pretende visitar este local, aqui vai a dica: partindo da cidade do México, você deve procurar pelo Terminal de Ônibus Norte (Autobuses Del Norte), que está ligado à linha do metrô da cidade (linha Amarela). A estação de metrô leva o mesmo nome “Autobuses Del Norte”. Os ônibus saem de 20 em 20 minutos, custam 90 pesos (7,2 dólares), e a viagem leva 1:30hs. As ruínas abrem as 10:00 da manhã, e será interessante chegar por volta deste horário, para evitar tumultos com ônibus de turistas e grupos escolares. Chegando na Rodoviária de Tula, você tem duas opções: Pode seguir a pé até as ruínas (elas ficam a cerca de 2,5 km do centro da cidade) ou pegar um taxi da Rodoviária até lá, que vai lhe custar 35 pesos (2,8 dólares). A entrada ao sítio arqueológico custa 57 pesos (4,5 dólares). Se tiver carteirinha de estudante leve e tente um “chorinho” para pagar meia entrada. A visita ao sítio arqueológico leva cerca de 2 horas. Desta forma, é muito tranqüilo sair da Cidade do México, visitar as ruínas, almoçar na cidade de Tula e retornar a capital mexicana no período da tarde. Lembrando que a conversão da moeda aqui mencionada é de 1 dólar = 12,5 pesos.

A viagem é tranqüila, em um bom ônibus, por uma boa estrada. No caminho, pode-se avistar uma série de grandes refinarias de petróleo em meio a uma paisagem semidesértica. As refinarias poluem a região, mas sem elas, as cidades atuais não existiriam. Tula de Allende é uma cidade pequena, com ruas estreitas e de trânsito conturbado. Sua principal atração são as ruínas arqueológicas de Tula, do povo Tolteca.

Passando pela portaria principal do Parque Arqueológico, deve-se seguir por um caminho bem marcado de 800 metros até chegar nas ruínas. Nesse trajeto, não tem como não observar os enormes e maravilhosos cactos existentes na região. São lindos! Contudo, evite sair da trilha e se aventurar pelo mato, pois a região desértica é habitada por serpentes. Ah, sim! Ao longo desses 800 metros, existem alguns grupos de barracas de venda de artesanato. Faz parte deles oferecerem seus produtos...Mas de boa, os caras são muito chatos...


TULA

Tula foi uma das cidades mais importantes do México antigo. Teve uma longa vida de mais de quatro séculos e, por volta de 1100 dC, foi uma metrópole com 16 km² de extensão e cerca de 40 mil habitantes. Foi composta por terraços, pirâmides, praças, palácios, canais de irrigação e drenagem, ruas, calçadas, escadarias, pontes e templos. Lutas internas por poder, seguido de invasões, decretaram o fim da cidade. Seu apogeu ocorreu entre 900 e 1200 dC.

A enorme praça principal com plataformas, escadarias, altares, palácios e duas quadras de jogo de bola, estavam localizados em um dos pontos mais altos da cidade, dominado assim, todo o espaço urbano. Era o centro religioso, político e administrativo. Suas duas pirâmides – visíveis de qualquer ponto da cidade – estiveram ornamentadas com esculturas gigantescas e baixos relevos policromos.


JOGO DE BOLA

Na quadra de bola nº 01, se encontrava a figura de um guerreiro com a vestimenta de Tláloc – Deus da Chuva – relacionado com as Dinastias Reais.

Nas cabeceiras da quadra, existem nichos onde possivelmente estavam as esculturas dos deuses patronos dos jogos. O interior da quadra deveria estar decorado com pedras lavradas, saqueadas na época dos mixtecas (astecas).

Quadra do Jogo de Bola nº 01

Próximo a Praça Central, existe uma segunda quadra de bola - maior que a primeira - onde se efetuavam encontros rituais associados ao movimento dos astros e das guerras. Existem evidências de antigas lápides esculpidas ornando o espaço, e também de anéis de pedras de cada lado da quadra. Existe uma semelhança notável entre esta segunda quadra de Tula e a existente em Chichén Itzá (Yucatã). Ao lado da quadra, uma plataforma larga e baixa (Tzompantli) era utilizada para se colocar os crânios dos indivíduos decapitados.

Diferente da quadra que vi em Monte Albán, estas duas apresentavam paredes laterais baixas, e estavam em condições de preservação abaixo da mencionada.


EL COATEPANTLI (MURO DAS SERPENTES)

Coberta e protegida por uma estrutura metálica horrorosa...Sério, essa estrutura interfere na observação do conjunto arquitetônico!...existe um maravilhoso exemplar de baixo relevo tolteca. O muro existente em Tula foi o protótipo dos que se construíram depois ao redor das praças da cidade asteca. Sabe-se que na cosmologia mexica, os muros marcavam os limites do espaço sagrado dos recintos cerimoniais. Provavelmente, tiveram o mesmo significado ritual para os toltecas.

Protegem...mas a estrutura é horrorosa!

O Muro das Serpentes

As figuras esculpidas nas lápides centrais do Coatepantli correspondem a esqueletos humanos devorados por enormes serpentes cascavéis, e estão relacionadas ao sacrifício humano.

Esqueletos e Serpentes...

Outras grafias ao lado das serpentes e esqueletos possuem influência mixteca e lembram em parte, os mosaicos de Mitla (Oaxaca). Os grafismos em forma de caracóis cortados simbolizam Quetzalcóatl em sua manifestação do planeta Vênus. Provavelmente este muro é o que sobrou de muitos que existiam na cidade. E todos pintados com cores fortes. Pode-se observar o predomínio do vermelho e amarelo nas pedras ainda.


O PALÁCIO QUEIMADO

Esta estrutura não foi utilizada como residência, e seu nome provém de um incêndio detectado durante as escavações arqueológicas. Seu uso provavelmente esteve ligado a reuniões de conselhos e oficiais ligados ao setor administrativo da cidade ou a alta elite governante. Havia decorações de procissões com importantes personagens nas faces sul e norte do salão principal, que lembram o Friso dos Caciques, localizados na Pirâmide B. Neste edifício foi localizado o Chac Mool, que atualmente está exposto no museu de sítio. Também foram localizadas algumas oferendas de conchas marinhas e turquesa, dentro de recipientes de cerâmica.

O Palácio Queimado

O Palácio em si é formado por três grandes salas com numerosas colunas adornadas e banquetas (relevo baixo que acompanha a parede). Um pedaço preservado da banqueta representa uma procissão de guerreiros e nobres, seguindo um indivíduo que muito provavelmente era o Rei, vestido como Tláloc, o Deus das Chuvas. É impressionante o número de colunas redonda e quadradas existentes, que deveriam estar cobertas por estuque e ornadas com cores e desenhos sagrados.


TEMPLO DA PIRÂMIDE B

Subir a escadaria da Pirâmide B para visualizar os Atlântes com um céu azul ao fundo foi uma das experiências mais gratificantes que tive em minha vida! O conjunto de estátuas é lindo, imponente! Com expressões austeras, os totens estátuas exigem respeito e submissão.

A Pirâmide B

O termo “Atlânte” é mais uma das bobagens inventadas na modernidade. Não tinham esse nome no passado. Também não se encontravam a vista do povoado na época pré-hispânica, assim como as pilastras com relevos que hoje coroam a pirâmide . Provavelmente serviam de apoio ao teto do templo, que havia na parte superior. As colunas em forma de serpente emplumada se encontravam na entrada do templo, e também são muito bonitas.

As estátuas representam guerreiros toltecas, com seu uniforme formado por peitorais (em forma de mariposa), facas e outras armas, que os distinguiam como militares de alto padrão.

Já as pilastras com relevos trazem em seus grifos, nomes de reis e governantes de Tula. O que tem o grifo em forma de Serpente Emplumada, acredita-se ser o rei sacerdote Topilzín Quetzalcóatl.



PIRÂMIDE C E ADORATÓRIO

A pirâmide C foi o edifício religioso mais importante de Tula. Sua arquitetura revela um contato e continuidade com as pirâmides do Sol e da Lua, existentes em Teotihuacán. Infelizmente, é um dos edifícios mais destruídos da cidade, e deveria ter abrigado em seu cume, estátuas e templo semelhante ao da pirâmide B. Ainda está para ser escavado e restaurado devidamente.

Pirâmide C

Já o pequeno adoratório no centro da praça está alinhado com a escadaria da pirâmide C, e certamente devia ter uma importância em cerimônias e rituais com a grande pirâmide. Em seu formato original, estava coberta por baixos relevos de guerreiros e possuía uma estátua Chac Mool em sua parte superior.

Tivemos a sorte de visitar o conjunto arqueológico de Tula por cerca de 30 minutos, sem a presença de outros turistas. Depois chegaram grupos de estudantes que infelizmente, não respeitavam o silêncio dom lugar, e muito menos as cordas de isolamento das estátuas “Atlântes”. Portanto, faço aqui um apelo: se visitar este local, seja civilizado e evite tocar nos baixos relevos existentes e nas estátuas. Disso depende sua preservação.

Após visitar as ruínas, você pode retornar a portaria, passar pelo estacionamento e seguir a pé até uma avenida de entrada. O trajeto leva 3 minutos. Nessa avenida, passam ônibus que levam você ao centro (Zócalo) e também muitos taxi’s.

Uma última dica: Se pretende almoçar em Tula de Allende, existe um restaurante muito agradável a uma quadra da Praça Central chamado “Los Negritos”. Fomos atendidos por uma simpática senhora, que nos ofereceu “Comida Corrida”, composta por uma sopa de creme de vegetais, arroz, carne enrolada com molho picante, sobremesa de pudim, suco de laranja e pães, por 60 pesos (4,8 dólares). Cada dia o cardápio muda, e tem também o serviço a la carte. Vale a pena! Dali, pode-se ir a pé para o Terminal Rodoviário de Tula, de onde se volta a capital mexicana.

O endereço é:
Restaurante “Los Negritos”
Héroes de Chapultepec, nº 2, Col. Centro
Tula de Allende. Tel (01 773) 7323743
e-mail: los_negritos@hotmail.com

Boa Viagem!


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