OS GUERREIROS MUTILADOS DE CERRO SECHÍN

 


 Por: Dalton D. Maziero

O complexo de Sechín é um dos sítios arqueológicos com maior potencial para reescrever a antiga história do Peru. Descoberto por Julio C. Tello em 1937, encontra-se em pleno deserto costeiro, nas proximidades da cidade de Casma a apenas 10 km do litoral. Antes chamado apenas de Cerro Sechín, descobriu-se posteriormente que suas diversas estruturas formavam um único complexo que inclui Sechín Alto, Sechín Baixo, Manchan, Chankillo e o mais recente Taukachi-Konkan. A estrutura completa pertence ao chamado período pré-cerâmico tardio, entre 3000 e 1800 a.C.; embora alguns arqueólogos – como Henning Bischof – proponha uma periodização dividida entre Sechín (3400-1650 a.C), Moxeque (1650-1400 a.C.) e Haldas (1400-1000 a.C.), sendo todas pertencentes a mesma tradição cultural.

A descoberta do famoso mural dos guerreiros mutilados ocorreu de forma curiosa. Em 1919, o arqueólogo Julio C. Tello retornava de uma expedição às ruínas de Chavín, onde visitou a coleção particular do Dr. Nicolás Sierra Alta, acostumado a fazer doações frequentes ao Museu de Arqueologia da Universidade de San Marcos. Com a morte de Sierra Alta, toda coleção passou aos cuidados de Juan I. Reyna, colecionador e morador em Casma. Em 1937, Tello visitou Reyna na esperança de rever a coleção para reforçar sua teoria sobre Chavín, como cultura matriz dos peruanos. Chamou-lhe a atenção uma pedra gravada (84 x 73 cm) com uma cabeça humana estilizada, que fazia parte do muro residencial de Reyna, e que fora abandonada na tentativa de contrabando de um alemão anos atrás. Desta forma, decidiu prolongar sua estadia em Casma, para identificar a origem dessa curiosa peça.

O local identificado pelos moradores como “Índio Bravo”, revelou-se um templo de 51 m² com uma fachada decorada de relevos. Ao todo, 300 imagens foram recuperadas com guerreiros ornamentados em perfil, empunhando suas armas e exibindo corpos amputados (cabeças, braços, pernas, vértebras) dos que parecem ser, os derrotados. Os guerreiros apresentam uma estética próxima aos utilizados em Chavín – inclusive com o uso do cetro como arma e rosto ferozes animalizados –, mudando posteriormente a proposta original de Tello sobre a origem matriz da cultura peruana.

O arqueólogo Henning Bischof opina que os relevos falam de um elaborado ritual propiciatório de sacrifícios, associado ao mar e a chuva oriunda da Cordilheira dos Andes. A desconfiança vem pelo motivo que, dentro do edifício, foram escavados outros relevos com vestígios de tinta colorida, representando peixes mitológicos, numa clara associação com o oceano e a chuva. Desta cena, que mistura elementos marinhos ao sacrifício humano, ele sugere que as vítimas eram jogas ao mar para que seus restos fossem devorados pelos peixes representados em relevo. Contudo, a verdadeira interpretação do mural certamente entrará para o rol das especulações.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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