Decifrando o mistério de pedra famosa em SC

Por: Rosana Bond - 24/08/2023

O conhecido desenho de uma “ampulheta”, gravado em baixo relevo em diversas rochas do litoral catarinense, tido até como um símbolo rupestre de Florianópolis, teve finalmente seu significado descoberto por um especialista em Arqueologia e Patrimônio Cultural de uma universidade de SC.

O resultado da pesquisa do doutor Yu Tao foi publicado neste ano como texto conclusivo de uma pós-graduação do tipo MBA, sob o título de Estudo Astronômico e Gestáltico para a Interpretação da Expressão Gráfica denominada como “Ampulheta” na Arte Rupestre em S. Catarina, Brasil.

Os indígenas e o relógio

O especialista verificou que indígenas pré-coloniais de SC (alguns grupos datados em mais de 6 mil anos, como é o caso dos caçadores-coletores construtores de alguns dos maiores sambaquis oceânicos do mundo) utilizavam o relógio do sol (gnômon) em sua vida cotidiana, a exemplo do Egito, Grécia e China. E que o mistério do desenho da pedra pôde ser desvendado ao verificar-se a enorme importância do astro solar na vida das populações nativas brasileiras.

Informou o estudioso de Arqueologia que  “…ao final do estudo se pôde concluir que a figura do arco solar (linhas de sombra projetadas no solo com o uso do relógio solar durante o passar do dia) é muito semelhante à figura de uma ampulheta.”

A pesquisa de Yu Tao constatou “semelhanças gráficas entre a inscrição rupestre da ‘Ampulheta’ e a fotometria de um relógio do Sol.”

Entalhe sem ferramenta metálica

A investigação do espoecialista foi realizada para verificar (ou descartar) uma possível origem gnomônica de 20 “ampulhetas” de arte rupestre em sítios arqueológicos litorâneos presentes em uma faixa de 120 km de costa, entre as praias de Porto Belo, Florianópolis e Garopaba.

O acervo rupestre de SC tem destaque no litoral brasileiro, tanto por ser muito numeroso quanto por sua excelência manufatureira (não se tratando de pinturas, mas sim  de entalhes/gravações feitas em baixo relevo, obviamente sem uso de ferramentas metálicas).   

O especialista também coletou e analisou evidências da presença da tecnologia do gnômon em culturas indígenas.

Para identificar a autoria do famoso desenho, não sendo possível fazer datação científica exata de obras rupestres com os métodos hoje conhecidos, o estudioso apenas citou que “o povo Tupi-Guarani considerava o Sol como o principal regulador da vida na Terra, com grande significado religioso.O gnômon é chamado de Kuaray Ra’anga em guarani e Cuaracy Ra’angaba em tupi antigo.”

Ele lançou a suposição, portanto, de que a gravura poderia ter sido uma homenagem da Tradição Tupi-Guarani à força solar, material e imaterial. Embora o respeitado João Alfredo Rohr também tenha ligado os tupis-guaranis às rupestres da Ilha-capital (1969), outros arqueólogos não mencionam tal vínculo.    

A arte e “o mundo interior”

Para verificação/interpretação das imagens estudadas, foram usadas pelo doutor Yu Tao as leis do Gestaltismo (teoria perceptiva fundada por terapeutas alemães e austríacos nos anos 1920).

Tais leis auxiliaram o especialista “a interpretar de que forma povos indígenas ancestrais expressavam seu mundo interior através da arte”.

Evento de Aleixo Garcia e império inca

Yu Tao fará um relato da sua importante descoberta em um evento programado pela AMVALI (Associação dos Municípios do Vale do Itapocu) para Corupá/SC, nos dias 15 e 16 de setembro. O ato irá comemorar os 500 anos da passagem de Aleixo Garcia e dos guaranis por aquela região catarinense, em sua viagem aos Andes pelo Caminho do Peabiru, que selou a descoberta do império inca antes dos espanhóis, contrariando a história oficial da América do Sul.


(OBS: O agora pós-graduado especialista em Arqueologia e Patrimônio Cultural, Yu Tao, também PhD,  é médico, acupunturista, com mestrado e doutorado na Uuniversidade chinesa de Heilongjiang. Há algum tempo reside em SC, onde deu aulas na Medicina/Naturologia da Unisul e hoje é professor na FURB (Blumenau) e Universidade de Medicina Chinesa de Zhejiang, China; autor do livro “Mandarim Celestial – Origem da Linguagem, Filosofia e da Medicina Chinesa”; membro da Sociedade Internacional de Arqueoastronomia e Astronomia na Cultura. Seu MBA (Arqueologia e P.Cultural)  foi realizado na FUCAP-UNIVINTE, sul do Estado de SC.)

Fonte: Decifrando o mistério de pedra famosa em SC - A Nova Democracia

 

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