XUNANTUNICH

Por: Dalton Delfini Maziero - 28/08/2024

Teobert Maler (1842-1917) era um daqueles exploradores europeus apaixonados por arqueologia. Nascido em Roma, filho de pais alemães, dedicou-se a arquitetura, um ramo de conhecimento que o acompanharia pelo resto de sua vida. Seu espírito irrequieto o levou a se alistar no exército de Maximiliano do México (1832-1867), quando foi capturado pelas forças republicanas e por lá ficou nos anos seguintes, graças também a uma herança paterna que o preservou financeiramente. Maler teve então a oportunidade de se dedicar com afinco à fotografia e a conhecer diversas ruinas maias neste período; e por elas se apaixonou, em especial por suas características arquitetônicas.

Em 1908, Maler lança a obra “Explorações no Departamento de Petén, Guatemala e regiões adjacentes - Memórias”, pelo Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia Americana (Harvard-EUA). Nela, descreve:

Provavelmente, minha permanência forçada em Benque Viejo poderia ser totalmente empregada explorando uma ruína situada do outro lado do rio. Esta ruína fica a apenas 2 1/2 km de distância em uma linha aérea, e o edifício principal, "El Castillo de dos Epocas", coroando uma eminência, aparece da vila moderna como uma altura verde e arborizada situada a noroeste. O topo de uma elevação natural evidentemente havia sido nivelado para formar um grande, terraço retangular perto das bordas do qual podem ser vistos os restos de pequenas estruturas, enquanto o centro é ocupado pelo edifício principal de dois andares.”

A ruína que Maler descreveu foi Xunantunich (também conhecida no passado como Benque Viejo), um antigo sítio maia datado de 600 a 890 d.C., situado a cerca de 110 km a oeste da atual cidade de Belize. Existem evidências arqueológicas que a região era ocupada por cerca de 200 mil pessoas no passado, que formavam um rico e pulsante grupo étnico local. Essa intensa ocupação só foi possível pela fertilidade do solo e a existência de um forte grupo de agricultores que sustentava toda atividade social. Contudo, não sabemos o nome verdadeiro de Xunantunich. O termo surgiu em 1892 e significa “Mulher de Pedra”, graças a uma lenda que descrevia a aparição de um fantasma nas ruínas: uma mulher vestida de branca e com olhos flamejantes, que aparecia e desaparecia nas escadarias da pirâmide conhecida como El Castillo (Estrutura A-6). Segundo a lenda, o fantasma tentava seduzir os moradores locais e levá-los para dentro de uma caverna de onde nunca mais saiam.

As primeiras escavações arqueológicas em Xunantunich aconteceram na década final do XIX, pelo arqueólogo amador Thomas Gann (1867-1938), um médico por formação apaixonado por arqueologia. Anos mais tarde, John Eric Sidney Thompson (1898-1975) estabeleceu a cronologia da região baseado no estudo da cerâmica local. Uma escavação efetiva mesmo ocorreu nos anos de 1959-1960  com o arqueólogo Euan Wallace MacKie (1936-2020), que confirmou a datação de Thompson e sugeriu o fim da ocupação na cidade por motivo de um devastador terremoto, que causou destruição de diversas estruturas, conhecidas como A-6, A-11, A-15 e Grupo B. Os detalhes dessa escavação podem ser conferidos no relatório “Escavações em Xunantunich e Pomona – Belize, em 1958-1960”, Oxford.

Arquitetonicamente, Xunantunich ocupa uma área de 2,6 km². É formado por seis praças, nas quais se distribuem palácios e 26 templos, sendo o mais famoso a estrutura A-6, também chamada El Castillo. A estrutura alcança 40 metros de altura e está adornado com um magnífico friso construído cerca de 800 d.C.,  representando fenômenos celestes, a Árvore da Vida e o nascimento do Deus da Criação. O friso original em estuque foi descoberto, estudado e recoberto para preservação, ficando em seu lugar uma réplica para visualização dos turistas.

Em 2016, uma equipe de arqueólogos descobriu uma câmara funerária intocada, contendo o esqueleto de um homem jovem, entre 20 e 30 anos, cercado por vasos, cerâmicas, pérolas, facas de obsidiana e ossos de animais.

Atualmente o complexo é estudado pelo Projeto Arqueológico Xunantunich, desde 1991.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador dos povos pré-colombianos e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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