Arqueologia do Sagrado | Livro de Fotografias

Arqueologia do Sagrado | Livro de Fotografias

por Kenia de Aguiar Ribeiro



A história deste trabalho fotográfico teve início há mais de vinte anos por ocasião da primeira grande viagem que fiz na vida. Tinha eu 33 anos de idade, quando, finalmente consegui - com recursos próprios e muito bem poupados - partir de Brasília rumo à Europa. Além de conhecer países que instigavam minha mente, eu estava prestes a realizar um sonho antigo, quase obsessivo: chegar à Ilha de Creta, lugar que sempre habitou o meu imaginário por se referir ao mito do Labirinto e do Minotauro.

O desejo de chegar a este destino - a Ilha de Creta - havia sido despertado pelos episódios de O Minotauro, da série Sítio do Pica-Pau Amarelo, em 1978. Vale lembrar que o mito grego do Minotauro foi adaptado para a literatura infantil por Monteiro Lobato. Posteriormente, o texto foi adaptado para uma inesquecível produção da tv brasileira.

A viagem teve início no final do verão de 2004. Desembarquei na Itália, onde consegui realizar algumas boas fotografias em Roma, no Vaticano e em Pompeia. Em seguida, parti para a Inglaterra. De Londres, meu destino era Stonehenge, o círculo de pedras megalítico da Idade do Bronze, associado a lendas sobre Merlin, o mago e conselheiro do Rei Artur. Depois, segui para Glastonbury, cidade envolta em mistério e também ligada ao mito arturiano.

De volta a Londres, recebi um "recado enigmático" que me pedia para ir à Irlanda conhecer um monumento pré-histórico megalítico chamado Newgrange. Corri até um cyber café no bairro de Hampstead para poder traçar o novo itinerário que inesperadamente interpôs-se no meu caminho.

Lembro-me da viagem de ônibus: os rios e vales profundos, o friozinho do início de outono e de passar por cenários do filme Coração Valente (Braveheart). Mais algumas paisagens e chegamos ao meu destino: Newgrange. A tumba de passagem gigantesca está em conexão com o solstício de inverno, quando um feixe de luz penetra pelo seu corredor interno até atingir uma bacia cerimonial de pedra na câmara central. Também em Newgrange foram gravadas em pedra as primeiras inscrições de trisceles, símbolo composto por três espirais entrelaçadas.

Conhecer Newgrange foi transformador. A experiência que tive ali determinou para sempre o objeto fotográfico para toda a vida: registrar lugares sagrados de antigas civilizações e de povos históricos.

Daquele momento em diante, a fotografia ganhou uma missão e se tornou um propósito.

Da Irlanda, segui brevemente pela França até a Grécia. Era setembro e os Jogos Paraolímpicos aconteciam em Atenas. Registrei algumas modalidades, enquanto me preparava para embarcar rumo à tão sonhada ilha de Creta.

Que incrível estar na Grécia, terra de deuses e heróis. Zeus, Atena, Afrodite, Apolo, Mercúrio, Hermes, Hércules, Teseu eram alguns dos nomes que povoavam a minha mente. Grécia, também terra da filosofia clássica, a qual eu iria entrar em contato alguns anos depois através da escola Nova Acrópole, que transformaria para sempre a minha postura diante da vida.

Do cais de Atenas embarquei num navio até a ilha de Creta. Sempre acompanhada da minha câmera fotográfica analógica FX-D e alguns rolos de filme, percorri caminhos, conheci pessoas, fotografei o desfiladeiro de Samaria e molhei os pés na água gelada do mar Mediterrâneo.

Finalmente cheguei ao sítio arqueológico de Cnossos, coração da civilização Minoica e palco dos mitos do Labirinto, de Teseu e do Minotauro. Esperei tantos anos para chegar ali e acreditem.... curiosamente, foi o lugar que menos fotografei. Tive a sensação de que a minha viagem havia sido tão intensa que ter chegado ali, bastava. Eu havia conseguido. Percebi que o mais importante estava no caminho percorrido e não apenas no destino final.

Assim nasceu um percurso que já soma mais de 20 anos. Com recursos próprios, fotografei lugares que marcaram profundamente a história da Humanidade: as pirâmides e templos egípcios às margens do Nilo, Petra na Jordânia, o santuário inca de Machu Picchu, no Peru, as estátuas gigantes da Ilha de Páscoa e o Oráculo de Delfos na Grécia. Após concluir uma pós-graduação em História do Cristianismo Antigo na Universidade de Brasília, parti para Palestina e Israel em busca de paisagens ligadas à vida de Jesus narradas no Novo Testamento.

É esse conjunto das fotografias que constitui a Arqueologia do Sagrado. Hoje, este projeto autoral soma mais de duas décadas de trabalho independente, financiado unicamente com o fruto da minha atividade como fotógrafa, designer gráfica e editorial.

Não foi fácil. Uma mulher com uma câmera na mão é completamente diferente de um homem com uma câmara na mão. Os obstáculos são mais numerosos e as situações nos impõem provas de diferentes naturezas. Entretanto, foram estas dificuldades e apuros, somadas às próprias exigências da arte fotográfica, que me transformaram. Elas me permitiram e me permitem crescer, me construir como uma pessoa melhor e me realizar como parte da obra sagrada da criação divina.

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