Restos de ossos humanos encontrados na Amazônia revelam história de populações milenares
Os achados foram feitos em um sítio arqueológico batizado de
Lago do Cochila, um complexo de ilhas artificiais que foram construídas pelos
habitantes ancestrais da região
Por Anne Silva – 22/10/2025
Um conjunto de achados arqueológicos localizados
no município de Fonte Boa, no Amazonas, revela os padrões de ocupação
humana milenar na região do Médio Solimões.
Os achados foram feitos em um sítio arqueológico batizado de
Lago do Cochila, um complexo de ilhas artificiais que foram construídas pelos
habitantes ancestrais da região, povos indígenas adaptando-se às inundações
frequentes do território.
De acordo com o Instituto de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá, que conduziu as análises em conjunto com comunidades
locais, estavam entre os itens descobertos urnas funerárias com
fragmentos de ossos humanos, além de ossos de animais aquáticos,
como peixes e quelônios, que podiam se relacionar tanto a tradições
ritualísticas quanto à alimentação dos locais.
As ilhas artificiais amazônicas são aterros construídos
em áreas alagáveis, de várzea, edificadas pelas comunidades indígenas durante
milênios para servir como assentamentos e locais de plantio. As construções
encontradas estão dispersas entre as regiões do Alto e do Médio Solimões.
No Lago do Cochila, foram encontradas sete urnas
cerâmicas enterradas a uma profundidade de 40 centímetros, sob os
locais onde provavelmente havia casas ou plataformas importantes para as
populações.
Segundo os relatos do Instituto, as urnas eram grandes e não
estavam tampadas, o que sugere que eram seladas com materiais orgânicos já
degradados ao longo do tempo.
Já as ilhas eram construídas a partir de fragmentos
cerâmicos e outros detritos, o que lança luz sobre as técnicas de
engenharia dos povos originários, que envolviam uma logística específica,
como a instalação de plataformas de madeira elevadas por cipós para fugir das
inundações, que ocorriam durante seis meses por ano.
“Essas ilhas artificiais são estruturas arqueológicas
levantadas em áreas de várzea mais altas, com material removido de outras
partes e misturado com fragmentos cerâmicos, intencionalmente posicionados para
dar sustentação”, diz Márcio Amaral, arqueólogo que liderou as expedições,
ao Instituto. “É uma técnica de engenharia indígena muito sofisticada, que
mostra um manejo de território e uma densidade populacional expressiva no
passado.”
A existência das ilhas parece sugerir que a ocupação era
permanente, com grau de organização social elevado.
As treze ilhas já descobertas podem se unir a outras ainda
não identificadas, de acordo com os arqueólogos do instituto. “Esse número, que
pode ser ainda maior, configura um padrão de ocupação em uma área mais ampla do
que as ilhas encontradas no Marajó.”
Relatos de moradores da região afirmam que as ilhas
artificiais ainda eram ocupadas entre o final do século 19 e o início do 20,
por um grupo indígena “que teria sido dizimado pela varíola”, afirma o
Instituto.
A idade dos fragmentos mais antigos encontrados nas
ocupações é de cerca de mil anos — a cerâmica do estilo Hachurada Zonada.


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