Os Tesouros Ocultos de Machu Picchu
Por: Heitor e Sílvia Reali
Quem nunca visitou a cidadela inca em fotos ou na imaginação, embarcando até mesmo antes de viajar? Quando, enfim, temos o privilégio de chegar ao alto da montanha sagrada, descobrimos muito mais do que conseguimos imaginar. Sem aviso prévio, logo de cara somos tocados pelo impacto da estonteante beleza do lugar, onde a cidade se ergue em total harmonia com seu entorno.
foto: viramundo e mundovirado
Machu Picchu pede para se chegar com os sentidos despertos. Porque o que não falta ali é clima de mistério. Ninguém resiste ao desejo de investigar como os construtores, sem nenhuma ferramenta, aprenderam os encaixes engenhosos das pedras. E como dominaram a terra com a agricultura em terraças, como souberam aprisionar o sol que entra por uma das janelas a cada solstício, e como traçaram a perfeita canalização da água.
Nós, porém, queríamos saber mais, pois, o que pega é por que, afinal, foram construir uma cidade no cocuruto estreito de uma montanha, a 2.430 metros de altitude? Um local de clima rebelde e instável, sujeito a terremotos e chuvas diluviais. E por que ali não sobrou nada, nenhum objeto sequer dos moradores?
É aqui que começa esta história. Logo depois de deixarmos Machu Picchu, de volta a Cusco, descobrimos o Museu Casa Concha e seu curador, Jose Altamirano Balena. Foi ele quem começou a conversa, denunciando a pilhagem arqueológica no Peru. Altamirano nos afirma que os saques disfarçados de ‘pesquisas’ foram financiados por instituições museológicas de países do primeiro mundo, e por exploradores inescrupulosos. Mas aqui, já vou avisando, o final é feliz, diferente de outros casos que rolam pelo mundo.
Machupicchu, assim mesmo, tudo junto, que em quéchua – idioma andino – significa Montanha Velha, foi construída pelo imperador Pachakuti. “Era uma cidade ritualística para onde se dirigiam os incas que procuravam interpretar seu destino e sua verdadeira identidade”, conta Altamirano.
A cultura inca era muito ligada à energia, à vida e ao conhecimento do destino de cada pessoa. Já as montanhas funcionavam como antenas que captavam essa energia reveladora, e os humanos estabeleciam a ligação entre os objetos inanimados e o mundo das forças espirituais. “Quando uma pessoa quer encontrar seu destino deve ir para o alto de uma montanha, lá um vento vai lhe dar a informação de que precisa”, garante o curador.
Os incas também atribuíam esse mesmo poder às peças existentes em Machu Picchu. Ah! Os objetos de que sentimos falta na cidadela! Segundo os guias, os moradores teriam abandonado a cidade às pressas, fugindo dos espanhóis que procuravam cidades feitas de ouro, perdidas nas montanhas, o lendário El Dorado, que tanto cobiçavam.
Em 1911, o historiador americano Hiram Bingham III encontrou a cidade sagrada de Machu Picchu, e 47 mil peças (dentre elas objetos de ouro e prata, cerâmicas, esqueletos, múmias e fragmentos) foram levadas para o museu de Yale, nos Estados Unidos. A luta dos peruanos para recuperar seus objetos sagrados iniciou-se em 1920, e a alegação do museu para não devolvê-los foi sempre: ‘não terminamos as pesquisas’, ou, ‘vocês não têm lugar apropriado para expor as peças’. E assim iam empurrando com a barriga…
Só que o mundo dá voltas. No final do ano de 2011, o primeiro lote com 367 objetos (de três carregamentos que totalizarão as 47 mil peças incas) chegou à Casa Concha, um nobre e antigo palacete colonial. Hoje, transformado em museu, abriga em dez amplas salas objetos de uso cotidiano ou ritualísticos como vasos e potes em cerâmica, ricamente decorados, lhamas e aves fundidas em prata, instrumentos de sopro, facas em bronze e ponchos de lã com signos geométricos.
Um dos itens mais perturbadores é um quipu, que significa nó em quéchua. Espécie de tranças com nós, o quipu é um sistema complexo que permitia aos incas calcular desde o recenseamento da população até a contagem dos rebanhos, dos impostos, e ainda era utilizado como calendário. Ao estudar esses cordões os cientistas quase piraram, pois encontraram semelhanças com as estruturas do cérebro, só hoje conhecidas.
Percorrer o museu Casa Concha antes de ir a Machu Picchu é de um valor cultural sem precedentes para aproveitar ainda mais o que a cidadela inca oferece. Reafirma o que ela tem de mais extraordinário e instigante. Faz a gente vislumbrar os atalhos de seus mistérios.
Serviço
Museu Casa Concha – Centro de Estudos Avançados de Machu Picchu
Calle Santa Catalina Ancha, Centro Histórico, Cusco, Peru
Aberto de 2a a sábado das 9:00 às 17hs
Acompanhe os autores pelo facebook viramundoemundovirado e instagram @viramundoemundovirado
Fonte: http://viagem.estadao.com.br/blogs/viagens-plasticas/os-tesouros-ocultos-de-machu-picchu/ (14/10/2016)
Quem nunca visitou a cidadela inca em fotos ou na imaginação, embarcando até mesmo antes de viajar? Quando, enfim, temos o privilégio de chegar ao alto da montanha sagrada, descobrimos muito mais do que conseguimos imaginar. Sem aviso prévio, logo de cara somos tocados pelo impacto da estonteante beleza do lugar, onde a cidade se ergue em total harmonia com seu entorno.
foto: viramundo e mundovirado
Machu Picchu pede para se chegar com os sentidos despertos. Porque o que não falta ali é clima de mistério. Ninguém resiste ao desejo de investigar como os construtores, sem nenhuma ferramenta, aprenderam os encaixes engenhosos das pedras. E como dominaram a terra com a agricultura em terraças, como souberam aprisionar o sol que entra por uma das janelas a cada solstício, e como traçaram a perfeita canalização da água.
Nós, porém, queríamos saber mais, pois, o que pega é por que, afinal, foram construir uma cidade no cocuruto estreito de uma montanha, a 2.430 metros de altitude? Um local de clima rebelde e instável, sujeito a terremotos e chuvas diluviais. E por que ali não sobrou nada, nenhum objeto sequer dos moradores?
É aqui que começa esta história. Logo depois de deixarmos Machu Picchu, de volta a Cusco, descobrimos o Museu Casa Concha e seu curador, Jose Altamirano Balena. Foi ele quem começou a conversa, denunciando a pilhagem arqueológica no Peru. Altamirano nos afirma que os saques disfarçados de ‘pesquisas’ foram financiados por instituições museológicas de países do primeiro mundo, e por exploradores inescrupulosos. Mas aqui, já vou avisando, o final é feliz, diferente de outros casos que rolam pelo mundo.
Machupicchu, assim mesmo, tudo junto, que em quéchua – idioma andino – significa Montanha Velha, foi construída pelo imperador Pachakuti. “Era uma cidade ritualística para onde se dirigiam os incas que procuravam interpretar seu destino e sua verdadeira identidade”, conta Altamirano.
A cultura inca era muito ligada à energia, à vida e ao conhecimento do destino de cada pessoa. Já as montanhas funcionavam como antenas que captavam essa energia reveladora, e os humanos estabeleciam a ligação entre os objetos inanimados e o mundo das forças espirituais. “Quando uma pessoa quer encontrar seu destino deve ir para o alto de uma montanha, lá um vento vai lhe dar a informação de que precisa”, garante o curador.
Os incas também atribuíam esse mesmo poder às peças existentes em Machu Picchu. Ah! Os objetos de que sentimos falta na cidadela! Segundo os guias, os moradores teriam abandonado a cidade às pressas, fugindo dos espanhóis que procuravam cidades feitas de ouro, perdidas nas montanhas, o lendário El Dorado, que tanto cobiçavam.
Em 1911, o historiador americano Hiram Bingham III encontrou a cidade sagrada de Machu Picchu, e 47 mil peças (dentre elas objetos de ouro e prata, cerâmicas, esqueletos, múmias e fragmentos) foram levadas para o museu de Yale, nos Estados Unidos. A luta dos peruanos para recuperar seus objetos sagrados iniciou-se em 1920, e a alegação do museu para não devolvê-los foi sempre: ‘não terminamos as pesquisas’, ou, ‘vocês não têm lugar apropriado para expor as peças’. E assim iam empurrando com a barriga…
Só que o mundo dá voltas. No final do ano de 2011, o primeiro lote com 367 objetos (de três carregamentos que totalizarão as 47 mil peças incas) chegou à Casa Concha, um nobre e antigo palacete colonial. Hoje, transformado em museu, abriga em dez amplas salas objetos de uso cotidiano ou ritualísticos como vasos e potes em cerâmica, ricamente decorados, lhamas e aves fundidas em prata, instrumentos de sopro, facas em bronze e ponchos de lã com signos geométricos.
Um dos itens mais perturbadores é um quipu, que significa nó em quéchua. Espécie de tranças com nós, o quipu é um sistema complexo que permitia aos incas calcular desde o recenseamento da população até a contagem dos rebanhos, dos impostos, e ainda era utilizado como calendário. Ao estudar esses cordões os cientistas quase piraram, pois encontraram semelhanças com as estruturas do cérebro, só hoje conhecidas.
Percorrer o museu Casa Concha antes de ir a Machu Picchu é de um valor cultural sem precedentes para aproveitar ainda mais o que a cidadela inca oferece. Reafirma o que ela tem de mais extraordinário e instigante. Faz a gente vislumbrar os atalhos de seus mistérios.
Serviço
Museu Casa Concha – Centro de Estudos Avançados de Machu Picchu
Calle Santa Catalina Ancha, Centro Histórico, Cusco, Peru
Aberto de 2a a sábado das 9:00 às 17hs
Acompanhe os autores pelo facebook viramundoemundovirado e instagram @viramundoemundovirado
Fonte: http://viagem.estadao.com.br/blogs/viagens-plasticas/os-tesouros-ocultos-de-machu-picchu/ (14/10/2016)
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