Pesquisadoras da Ufopa descobrem tanques usados para criação de peixes na Amazônia pré-colonial
Foto: Gabriela Prestes Carneiro
Área fica no meio da savana Llanos de Mojos, na porção amazônica da Bolívia. Participaram dos estudos pesquisadores da Alemanha, Brasil, França e Bolívia.
Por G1 Santarém
Arqueólogos de quatro países conseguiram identificar resquícios de uma grande rede de drenagem, de cerca de 2 km de extensão, usada para a criação de peixes pela população indígena que habitou uma área da Amazônia por quase 1000 anos, no período de 500 a 1.400 d.C. A área fica no meio da savana Llanos de Mojos, na porção amazônica da Bolívia.
Participaram dos estudos pesquisadores de quatro países, sendo Alemanha, França, Bolívia e Brasil – com as arqueólogas Gabriela Prestes Carneiro e Myrtle Pearl Shock, professoras do curso de Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em Santarém.
Segundo a pesquisa, possivelmente, a rede tinha a função de fornecer água e alimento durante o ano inteiro em uma região que passa oito meses no período da seca e que estava muito longe de fontes de água corrente. O rio mais próximo passa a 20 km e o lago, a 7 km de distância.
O sistema funcionaria como um funil, drenando a água da chuva em direção aos poços e canais e possibilitando a reserva de água. A rede recém-descoberta é formada por canais com 2 km de extensão e poços artificiais de 30 metros de diâmetro, 2,5 metros de profundidade e capacidade de armazenar 1.410 metros cúbicos de água.
Visão de dentro do tanque pré-colonial. Abertura à frente indica um dos canais que abasteciam o tanque — Foto: Heiko Prümers
Os estudos apontaram que os indígenas eram sedentários, e através do conhecimento de regime de chuvas e particularidades do território, manejaram o ambiente para que pudessem viver o ano inteiro em uma mesma área. Os poços teriam multifunções, como criatório de peixes, fornecimento de água e para cultivo de alimentos.
Realizada entre 2015 e 2018, a pesquisa é o primeira a trazer uma extensa lista de peixes consumidos por populações pré-coloniais, com mais de 35 espécies identificadas. Os mais de 17.000 fragmentos analisados apontam que as principais espécies consumidas eram muçum, tamoatá, piramboia, traíra e acari.
Gabriela Prestes Carneiro conta que a enorme quantidade de ossos encontrados no local foi o ponto de partida da descoberta dos tanques.
A pesquisadora montou as ossadas e comparou os ossos com os esqueletos de peixes amazônicos disponíveis na coleção científica do Museu Nacional de História Natural de Paris. Assim, conseguiu identificar as espécies e percebeu que se tratava de peixes que possuem adaptações fisiológicas para resistir a águas extremamente rasas e com baixo oxigênio, os chamados “peixes de lama”, como o muçum, o tamoatá e a pirambóia.
Partes de esqueletos de peixes foram usados durante a pesquisa — Foto: Reprodução/Plos One
A grande sacada foi relacionar essa característica das espécies encontradas às áreas escavadas, de modo que os pesquisadores foram percebendo que se tratava de canais e poços.
“Eu fui vendo o conjunto de espécies que tinha descoberto e ligando aos tanques. E aí começamos o processo de documentar melhor esses tanques, entender como que era o abastecimento de água. E percebemos que as plataformas artificiais, que eram os locais de moradia deles, estão numa área mais elevada e que os canais vão para áreas mais baixas. Isso indica que os indígenas conheciam muito bem o regime de cheia e vazante da água e a topografia para fazer esse manejo da água”, explica Carneiro.
Cultura alimentar
Também foram apontados nos resultados da pesquisa a riqueza alimentar das populações, com consumo de diversas plantas e animais.
“É importante focarmos em como nós podemos aprender com essas lições do passado e também das comunidades tradicionais e populações indígenas, de como enriquecer e variar os componentes da nossa dieta”, disse a pesquisadora.
Estrutura da rede de drenagem. Canais no entorno dos assentamentos indígenas alimentavam dois tanques — Foto: Reprodução/Plos One
Tanques em Santarém e Belterra
Esse tipo de construção, em plataformas, é bastante comum em toda a Amazônia, mas são pouco estudados. Outros exemplos de tanques pré-coloniais na Amazônia já foram documentados, na Venezuela e arquipélago do Marajó, no Nordeste paraense e também no Oeste do Pará.
Nos municípios de Santarém e Belterra, pesquisadores encontraram indícios de poços de grande porte, com tamanhos que variam de 5 metros a impressionantes 50 metros de diâmetro. São estruturas que ainda precisam ser documentadas e que podem contribuir para melhor compreender como os indígenas pré-coloniais manejavam as águas e as áreas de savana.
Fonte: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2019/07/01/pesquisadoras-da-ufopa-descobrem-tanques-usados-para-criacao-de-peixes-na-amazonia-pre-colonial.ghtml (01/07/2019)
Área fica no meio da savana Llanos de Mojos, na porção amazônica da Bolívia. Participaram dos estudos pesquisadores da Alemanha, Brasil, França e Bolívia.
Por G1 Santarém
Arqueólogos de quatro países conseguiram identificar resquícios de uma grande rede de drenagem, de cerca de 2 km de extensão, usada para a criação de peixes pela população indígena que habitou uma área da Amazônia por quase 1000 anos, no período de 500 a 1.400 d.C. A área fica no meio da savana Llanos de Mojos, na porção amazônica da Bolívia.
Participaram dos estudos pesquisadores de quatro países, sendo Alemanha, França, Bolívia e Brasil – com as arqueólogas Gabriela Prestes Carneiro e Myrtle Pearl Shock, professoras do curso de Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) em Santarém.
Segundo a pesquisa, possivelmente, a rede tinha a função de fornecer água e alimento durante o ano inteiro em uma região que passa oito meses no período da seca e que estava muito longe de fontes de água corrente. O rio mais próximo passa a 20 km e o lago, a 7 km de distância.
O sistema funcionaria como um funil, drenando a água da chuva em direção aos poços e canais e possibilitando a reserva de água. A rede recém-descoberta é formada por canais com 2 km de extensão e poços artificiais de 30 metros de diâmetro, 2,5 metros de profundidade e capacidade de armazenar 1.410 metros cúbicos de água.
Visão de dentro do tanque pré-colonial. Abertura à frente indica um dos canais que abasteciam o tanque — Foto: Heiko Prümers
Os estudos apontaram que os indígenas eram sedentários, e através do conhecimento de regime de chuvas e particularidades do território, manejaram o ambiente para que pudessem viver o ano inteiro em uma mesma área. Os poços teriam multifunções, como criatório de peixes, fornecimento de água e para cultivo de alimentos.
Realizada entre 2015 e 2018, a pesquisa é o primeira a trazer uma extensa lista de peixes consumidos por populações pré-coloniais, com mais de 35 espécies identificadas. Os mais de 17.000 fragmentos analisados apontam que as principais espécies consumidas eram muçum, tamoatá, piramboia, traíra e acari.
Gabriela Prestes Carneiro conta que a enorme quantidade de ossos encontrados no local foi o ponto de partida da descoberta dos tanques.
A pesquisadora montou as ossadas e comparou os ossos com os esqueletos de peixes amazônicos disponíveis na coleção científica do Museu Nacional de História Natural de Paris. Assim, conseguiu identificar as espécies e percebeu que se tratava de peixes que possuem adaptações fisiológicas para resistir a águas extremamente rasas e com baixo oxigênio, os chamados “peixes de lama”, como o muçum, o tamoatá e a pirambóia.
Partes de esqueletos de peixes foram usados durante a pesquisa — Foto: Reprodução/Plos One
A grande sacada foi relacionar essa característica das espécies encontradas às áreas escavadas, de modo que os pesquisadores foram percebendo que se tratava de canais e poços.
“Eu fui vendo o conjunto de espécies que tinha descoberto e ligando aos tanques. E aí começamos o processo de documentar melhor esses tanques, entender como que era o abastecimento de água. E percebemos que as plataformas artificiais, que eram os locais de moradia deles, estão numa área mais elevada e que os canais vão para áreas mais baixas. Isso indica que os indígenas conheciam muito bem o regime de cheia e vazante da água e a topografia para fazer esse manejo da água”, explica Carneiro.
Cultura alimentar
Também foram apontados nos resultados da pesquisa a riqueza alimentar das populações, com consumo de diversas plantas e animais.
“É importante focarmos em como nós podemos aprender com essas lições do passado e também das comunidades tradicionais e populações indígenas, de como enriquecer e variar os componentes da nossa dieta”, disse a pesquisadora.
Estrutura da rede de drenagem. Canais no entorno dos assentamentos indígenas alimentavam dois tanques — Foto: Reprodução/Plos One
Tanques em Santarém e Belterra
Esse tipo de construção, em plataformas, é bastante comum em toda a Amazônia, mas são pouco estudados. Outros exemplos de tanques pré-coloniais na Amazônia já foram documentados, na Venezuela e arquipélago do Marajó, no Nordeste paraense e também no Oeste do Pará.
Nos municípios de Santarém e Belterra, pesquisadores encontraram indícios de poços de grande porte, com tamanhos que variam de 5 metros a impressionantes 50 metros de diâmetro. São estruturas que ainda precisam ser documentadas e que podem contribuir para melhor compreender como os indígenas pré-coloniais manejavam as águas e as áreas de savana.
Fonte: https://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2019/07/01/pesquisadoras-da-ufopa-descobrem-tanques-usados-para-criacao-de-peixes-na-amazonia-pre-colonial.ghtml (01/07/2019)
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