Criação de geoparque pode estimular a economia e o conhecimento sobre arqueologia no Paraná

Por: Maria Guida, especial para a Gazeta do Povo – 12.05.2023

Troncos petrificados da era Paleozóica, com mais de 250 milhões de anos; rochas magmáticas da época da formação do Oceano Atlântico; afloramentos de antigos desertos que formam o Aquífero Guarani e rochas sedimentares que retratam mares antigos. Todos esses achados arqueológicos relevantes estão em Prudentópolis, cidade na região centro-sul do Paraná.

O território do município, com 2.237 km², além de ter uma grande relevância geológica, possui uma rica biodiversidade e patrimônios culturais. Conhecida como "Terra das cachoeiras", a cidade abriga a maior comunidade ucraniana do Brasil e tem estudos sobre prováveis casas indígenas da tribo caingangue. É lá também que se desenvolveram os faxinais, sistema camponês de uso sustentável e compartilhado dos recursos naturais. Riqueza que uniu órgãos diversos para a criação do primeiro geoparque do Paraná.

O projeto, desenvolvido pelo Instituto Água e Terra (IAT), tem parcerias com as secretarias estaduais da Cultura e do Turismo; com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e a Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), além da prefeitura de Prudentópolis.

Geólogo do IAT, Gil Francisco Piekarz destaca que um geoparque constitui uma atração turística internacional, com finalidade de cunho científico, por ser uma área de interesse arqueológico. As estratégias envolvem desenvolvimento sustentável por meio da divulgação desses bens naturais e imateriais. “Geoparque é uma área delimitada que possui um patrimônio geológico de importância internacional. São locais que contam a evolução histórica do nosso planeta e de todos os seres que aqui habitam ou que um dia habitaram”, explica.

Potencial de Prudentópolis para o desenvolvimento sustentável

O professor e coordenador do Museu de Ciências Naturais da UEPG, Antonio Liccardo, vê grandes chances para o desenvolvimento sustentável de Prudentópolis. Ele orienta dois doutorandos com teses que ajudam a levantar dados sobre a região.

"Este é o primeiro passo para pleitear na Unesco. Em Prudentópolis são diferentes geossítios que formam o Patrimônio Geológico. Assim como temos um Patrimônio Natural magnífico, com cânions e cachoeiras. A região tem uma cultura fortemente influenciada pelo ucranianos, bem como heranças indígenas. Queremos valorizar as pessoas que habitam em Prudentópolis e fortalecer a sustentabilidade da região", informa o professor.

Geoparques no Brasil e no mundo

Em abril de 2022, em Paris, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o geoparque do Seridó. A área, no Rio Grande do Norte, com 2,8 mil km², abrange seis municípios.

São certificados pela Unesco 177 geoparques em 46 países, três deles no Brasil. Além de Seridó, tem o geoparque do Araripe, no Ceará, e o Caminhos dos Cânions do Sul, no Rio Grande do Sul. "Foi um processo longo, de oito anos, depois que entregamos o dossiê com os critérios da Unesco. Recebemos avaliadores que vieram ao Seridó para verificar o que apresentamos e agora temos a chancela da Unesco", conta o coordenador científico do geoparque Seridó, Marcos Nascimento.

No território do Seridó, a economia é estruturada pelo tripé pecuária, agricultura e mineração. De lá é extraído o tungstênio, metal usado amplamente na indústria para diversas finalidades, como a produção de filamentos para lâmpadas elétricas.

Logo após receber o título da Unesco, quem mora no Seridó sentiu os efeitos da criação do geoparque e, hoje, a possibilidade de uma nova fonte de renda é realidade para muitos moradores. "Nós ouvimos muito o povo daqui e explicamos o conceito de geoparque. As pessoas foram percebendo a chance de trabalhar com isso. A venda do artesanato aumentou, o setor de turismo está aquecido. São pousadas, restaurantes e guias de turismo que movimentam a economia local. Questões sociais, econômicas e ambientais melhoraram juntas a partir disso", avalia o coordenador do Seridó.

Geoparques não são parques

Com a chancela da Unesco, geoparques não são unidades de conservação, assim como os parques nacionais. Os geoparques são áreas geográficas únicas, com sítios geológicos de importância científica, que têm a finalidade de divulgar atrativos arqueológicos, geológicos, ambientais e turísticos de cidades e regiões, propondo estratégias de desenvolvimento territorial sustentável a partir da divulgação de bens materiais e imateriais.

Há mais de 15 anos, foi proposta a criação de um geoparque na região dos Campos Gerais, também no Paraná. Entretanto, a proposta não avançou. Muitas pessoas foram contrárias e a proposição não avançou. "Naquela época era diferente. Não foi um bom momento para tentar a implantação, as pessoas achavam que íamos interferir. Houve uma interpretação errada da proposta por alguns setores e pessoas. No Brasil tínhamos apenas um geoparque. Hoje são três e tem mais vários candidatos, há um conhecimento mais amplo de desenvolvimento sustentável. Ainda temos muitas possibilidades para a criação de locais como esses, basta unir esforços", ressalta Antônio Liccardo, professor da UEPG.

Fonte: Geoparque pode estimular economia e conhecimento sobre arqueologia (gazetadopovo.com.br)

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