Geoglifos do Acre continuam chamando a atenção do mundo



Escrito por Edmilson Ferreira
Fotos: Sérgio Vale

Cientistas organizam grande frente de pesquisa para decifrar mistério das estruturas de terra encontradas no Vale do Acre

Em fase de tombamento como patrimônio da humanidade, os geoglifos do Acre continuam atraindo a atenção do mundo. Entre os meses de junho e julho, pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Finlândia e outros países percorrerão o Vale do Acre para aprofundar os estudos na tentativa de desvendar o grande mistério que cerca as estruturas de terra construídas possivelmente entre 700 e 3.000 anos passados. A palavra geoflifo é a contração de "terra" e "marca" em latim. As estruturas são marcas na terra, construídas e mantidas ao longo de centenas de anos por uma civilização que, segundo as últimas teorias, passou das 60 mil pessoas.

A finalidade dos geoglifos ainda é uma incógnita. Mas em artigo, a arqueológa Denise Schaan, do Museu Emílio Goeldi, de Belém, dá uma pista: "a ideia de civilização está ligada a cidades, locais onde existem bairros e diversas áreas comerciais e residenciais. Os geoglifos tinham sim estradas que os conectavam, revelando uma malha quase urbana de lugares e caminhos. Ainda assim não poderíamos chamá-los cidades, mas centros de encontro, lugares sagrados onde se reunia uma população bastante grande para a época. Localizados a meio caminho entre os Andes e a várzea amazônica, os geoglifos sofriam a influência de ambos os ambientes e devem ter sido palco de cerimônias, festas, conflitos e encontros". Ou seja: as terras distantes dos principais rios e das várzeas serviram também de rotas de povoamento e de implantação de extensos assentamentos. "Cidades" com intensa atividade agrícola, pessoas interferindo no ambiente ao seu redor, na floresta ou savana, trabalhando de modo cientificamente perfeito na movimentação dos solos e das águas, mantendo sistemas defensivos e práticas religiosas. Se o ambiente era de hostilidade por questões ideológicas ou mesmo ambientais, a guerra de cacicados e a política de jugo de um povo sobre outro propõem que os geoglifos de forma circular eram preferencialmente fortalezas paliçadas prontas para rechaçar inimigos. Rodrigo Aguiar, co-autor do livro "Geoglifos da Amazônia - Perspectiva Aérea", aponta o método de trabalho dos construtores de geoglifos: "cortes são escavados, e a terra extraída é, cuidadosamente, depositada ao lado do sulco, formando figuras em alto e baixo relevo".

Mesmo prematuras, as pesquisas colocam por terra a tese de que a Amazônia não teria condições de abrigar civilizações mais avançadas. Os geoglifos mostram exatamente o contrário, ao mesmo tempo que podem estar revelando que nem sempre o ambiente amazônico foi o que se vê hoje. Os primeiros sítios foram descobertos pelo arqueólogo Ondemar Dias, em 1977. Hoje, em uma área de mais de 250 quilômetros no Vale do Acre e região Sul do Amazonas foram identificadas dezenas dessas estruturas.

“Os geoglifos tinham sim estradas que os conectavam, revelando uma malha quase urbana de lugares e caminhos. Ainda assim não poderíamos chamá-los cidades, mas centros de encontro, lugares sagrados onde se reunia uma população bastante grande para a época.”
Denise Schaan, arqueóloga do Museu Emílio Goeldo

Torres de observação - A preservação dos geoglifos é uma prioridade para o governador Binho Marques, que no último sábado realizou sobrevôo de helicóptero sobre a rota arqueológica do Acre. Para divulgar e manter os sítios arqueológicos, o Governo do Estado está investindo na prospecção turística. "Até setembro, teremos uma torre de observação do geoglifo nas terras de Jacob Sá", informou o secretário de Turismo, Cassiano Marques. A torre na verdade será um centro de visitação, onde o turista receberá todas as informações disponíveis sobre as estruturas e poderá adquirir souvenir como lembrança da passagem pela torre, que terá 23 metros de altura.

Há uma agência de turismo, a Maanaim, que se especializou em realizar voos panorâmicos pelos geoglifos. Usando aviões como o Minuano, Caravan e Sêneca, a agência leva o turista a um voo de cerca de uma hora de duração até os geoglifos da Estrada de Boca do Acre, Capixaba e região - a rota de maior concentração de sítios. O voo de uma hora custa R$ 1,5 mil para até cinco pessoas, incluindo o translado hotel-aeroporto. "Os turistas se mostram muito surpresos", disse João Bosco, que se encontra em Turin, na Itália, divulgando às operadoras locais as rotas turísticas do Acre, incluindo os geoglifos.

Fonte: Brasil, www.agencia.ac.gov.br/ (27/04/2010)

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