Heranças na terra em movimento

Com edifícios construídos em barro e muralhas nos setores importantes, Pachacamac guarda os resquícios do povo lima

Muito antes da chegada dos espanhóis, a cultura lima alcançou seu esplendor e teve seu principal centro de ocupação em Pachacamac, sítio arqueológico aberto à visitação situado a cerca de 40 quilômetros de onde está estabelecida a capital do país. O local conta com boa infraestrutura e é bastante frequentado por turistas e estudantes. No centro de visitantes há um pequeno museu e lojinha de souvenirs com itens originais, como quebra-cabeças com motivos históricos, culturais e, claro, arqueológicos.

Evidências indicam que a cidadela, fundada por volta de 1 mil a 1,5 mil anos atrás, reunia centros cerimoniais e concentrava grande número de habitantes. Contava com sistema de abastecimento por meio de aquedutos puxados diretamente de lençóis freáticos no subsolo. Havia também canais de irrigação artificiais, algo primordial numa região árida como a costa peruana.

A área total ocupa 4 hectares, dos quais apenas 20% foram escavados. No local, funciona um museu (pachacamac.perucultural.org.pe), que guarda cerâmicas e estátuas como a do detalhe, retiradas do sítio arqueológico. Tais pesquisas resultaram em descobertas como a de que os setores considerados sagrados, assim como os de caráter administrativo, eram amuralhados. Templos, edificações nobres e cemitérios estão enfileirados pelo caminho aberto aos visitantes.

Tudo construído em barro, sobre fundações feitas com grandes blocos de pedra retirados do Rio Lurín, em torno do qual floresceu a cultura lima. Bem distante dali, ao norte do Peru, a grandiosa cidade de Chan Chan tem estilo bastante similar.
Dentre as edificações destaca-se o Templo Pintado. Nele foram encontradas evidências de sacrifícios humanos. Uma das práticas atribuídas à cultura local consistia em enterrar pessoas vivas. Preferencialmente mulheres. E bonitas. Quanto mais bela fosse, mais agradaria aos deuses. Tudo para conter a fúria da natureza, especialmente no que diz respeito a terremotos e tempestades.

O nome da cidadela faria referência a esse aspecto. "Pacha" significa terra, enquanto "camac" quer dizer movimento. Muitos interpretam isso como uma alusão a um suposto deus dos terremotos. Como ocorreu com praticamente todos os demais, o povo lima acabou incorporado ao Império Inca, depois de ser dominado pelos itxmai. Nota-se tal legado nas terrazas, exemplo característico da mais elaborada arquitetura incaica, cujo objetivo era abrir espaço para cultivo em encostas íngremes, garantindo irrigação e, ao mesmo tempo, evitando processos erosivos.

Reluzente. Ademais, desconfia-se de que o Templo do Sol tivesse toda sua fachada banhada em ouro e entremeada por representações pictóricas na cor vermelha, traço emblemático da nobreza incaica. Há evidências bem nítidas ainda hoje. Principal atração de Pachacamac, o templo fica em um plano elevado de frente para o mar e é um dos únicos locais em que turistas estão autorizados a caminhar, subir seus degraus e desfrutar da vista.

Detalhe: às margens do sítio arqueológico cresce o que os peruanos chamam de barrio nuevo, ou, em bom português, favela. O curioso é que a ocupação teve início com os trabalhadores que compunham a equipe de escavações, na década de 1970. O Palácio de Tauri Chumpi, assim batizado em tributo ao nome do último grande governante que teria vivido ali entre 1470 e 1533, fica de costas para a favela. Foi durante a gestão de Tauri Chumpi que chegaram os espanhóis. O restante da história em nada difere do ocorrido noutros rincões sul-americanos: matança "em nome de Deus" e destruição de símbolos e de todo legado estranho à orientação cristã.

Fonte: Brasil, www.estadao.com.br/noticias/ (24/05/2010)

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