Brancos e índios unem-se para desvendar o passado

A quem pertencem os mortos? Nos Estados Unidos, essa pergunta tem sido fonte de tensão entre arqueólogos e povos indígenas nativos.

Por Kate Wong

No entanto, alguns encontraram meios para trabalharem em conjunto. Os exemplos de cooperação estiveram em foco na sessão de abertura do encontro anual da Society for American Archaeology no fim de março.

A última primavera marcou o 20º aniversário do Ato para a Proteção e Repatriação dos Túmulos Nativos Americanos (NAGPRA – sigla em inglês para Native American Graves Protection and Repatriation Act), criado para facilitar o retorno de material cultural dos povos nativos – incluindo restos mortais humanos e objetos sacros – aos indígenas, que poderão ser novamente enterrados caso queiram. A lei exige que museus e outras instituições devolvam somente restos que possam ser encaminhados às tribos reconhecidas federalmente. Em maio passado, entretanto, regras adicionais entraram em vigor permitindo que tribos reivindiquem também restos não-identificados. Essas novas regras geraram críticas por parte dos arqueólogos e antropólogos que temem potenciais perdas no campo científico. Há ainda a preocupação de que as regras criadas possam impedir a repatriação correta ao longo do processo, e também que novas técnicas para estabelecer a afiliação cultural sejam disponibilizadas.

Em um encontro em Sacramento, pesquisadores fizeram referências à “apreensão” em torno das novas regras da NAGPRA, mas focaram no quanto os arqueólogos e os povos indígenas nativos podem se ajudar. A arqueóloga Wendy Teeter, da University of California, em Los Angeles, e a arqueóloga Desiree Martinez, membro da tribo Tongva, falaram sobre seus trabalhos na ilha Santa Catalina, perto da costa de Los Angeles, onde estudaram sítios arqueológicos datando 9 mil anos. Os antigos residentes da ilha participaram de uma extensiva rede de trocas de mercadorias que abrangiam o sul e sudeste da Califórnia. Teeter afirma que seu grupo está incorporando idéias dos atuais moradores da ilha e membros do povoado de Tongva na interpretação de dados, com uma abordagem mais “holística” para entender a relação entre os Tongva da Ilha Catalina e os Tongva continental. Martinez, explica que os dois povos Tongvas não são reconhecidos federalmente, embora haja uma campanha de longa data para seu reconhecimento ─ e o trabalho na Ilha Santa Catalina está os auxiliando a documentar sua cultura.

Outro exemplo de “simbiose intelectual” veio do arqueólogo Alstom Thoms da Texas A&M University e Ramon Vasquez, diretor executivo da organização “American Indians in Texas at Spanish Colonial Missions,” que discursaram sobre seus trabalhos no sítio localizado ao longo do Rio Medina, em San Antonio. Thoms estuda o padrão de utilização do solo e a caça dos povos que ali moraram cerca de 10 mil anos atrás. Ele contou que aprender as técnicas tradicionais de cozinhar dos índios nativos o ajudou a entender as estratégias de subsistência da tribo. Vasquez, nota que o conhecimento arqueológico sobre o que os ancestrais comiam levou à reintrodução de alguns desses alimentos em nossa dieta nos dias de hoje.

Membros da Nação Tap Pilam Coahuiltecan, que se consideram descendentes destes índios nativos, têm a esperança de diminuir suas altas taxas de diabetes e outras doenças que os aflige.

“O quanto mais os arqueólogos mantiverem contato com os indígenas,” Thom observou, “mais benefícios teremos todos nós”.

Fonte: http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/arqueologos_e_povos_indigenas_dos_estados_unidos_se_unem_para_entender_o_passado_e_construir_o_futuro.html (abril/2011)

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