Achado arqueológico

O secretário de Cultura, Antonio Oliveira, e a subsecretária do Conselho de Cultura, Yvonne Teixeira, buscam imóvel para abrigar a canoa
Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press


Canoa de 10,6 metros encontrada em São Vicente de Minas, no sul de MG, pode ser anterior ao descobrimento do Brasil, segundo teste de carbono 14. Bem cultural será tombado

Texto de Gustavo Werneck
gustavowerneck.mg@dabr.com.br

São Vicente de Minas - O desenho feito pelo alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), em viagem pelo país entre 1822 e 1825, mostra que a lotação da canoa está esgotada. Sentados ou de pé na embarcação emoldurada pela mata tropical, 12 índios, um deles com um bebê no colo, pescam no rio caudaloso. Olhando a imagem, pode-se enxergar certo exagero em Rugendas, mas a ideia vai por água abaixo quando se está diante de um exemplar semelhante ao documentado pelo artista.

Em São Vicente de Minas, no Sul do estado, a 263 quilômetros de Belo Horizonte, autoridades e pesquisadores estão mergulhados numa história recheada de importância arqueológica e cultural, desde que foi encontrada, há pouco mais de 10 anos, uma canoa de 10,6 metros de comprimento e 70 centímetros de largura no leito do Rio Aiuruoca, integrante da Bacia do Rio Grande. O bem, que despertou o interesse da Marinha e acaba de receber laudo técnico do Ministério Público Estadual (MPE), data do período de1480 a 1660, conforme análise pelo método carbono 14, feita nos Estados Unidos.

Até o fim do ano, a canoa será tombada pelo município para, enfim, se integrar por completo à comunidade. No entanto, um galpão do parque de exposições da cidade não é o lugar adequado para se guardar uma raridade dessa natureza, concorda o presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural da cidade, Antônio Roberto de Oliveira, ao lado da secretária da entidade, Yvonne Teixeira.

Sob responsabilidade da prefeitura e do conselho, a embarcação, que apresenta desgastes nas laterais, está sobre tocos de madeira, no chão, coberta por tecido TNT e protegida por uma cerca. "O objetivo da prefeitura é encontrar um imóvel para abrigá-la, ou talvez construir um específico, e deixá-la aberta à visitação pública. Por enquanto, estamos seguindo as recomendações das autoridades, como deixá-la isolada, sem transportar de um lado para outro, a fim de não danificá-la", afirma Oliveira. A vistoria no bem cultural ocorreu em abril, a cargo dos historiadores Karol Ramos Medes Guimarães, da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico, e José Bittencourt, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A história veio à tona no fim de 1999, num período de estiagem, quando encontraram a peça de madeira (angelim-rosa, escavada no tronco de uma única árvore), na localidade de Olaria ou Barreiro, no limite com Andrelândia. No mesmo dia, uma segunda canoa, de menor tamanho, foi tirada da água, embora sem a mesma sorte. Levada para uma fazenda, foi dividida ao meio, sendo parte queimada e a outra transformada em cocho para o gado. "A embarcação foi removida da água indevidamente. Devido à seca, ele estava com a maior parte enterrada na lama. E por desconhecimento das autoridades locais da época, sobre a relevância do achado arqueológico, ela ficou abandonada durante muitos anos no parque de exposições", conta Antônio. Somente em 2009 foram tomadas as providências para a preservação e processo de tombamento, que transcorre em caráter de urgência.

Fonte: www.diariodepernambuco.com.br/ (07/08/2010)

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