A Corrente de Huáscar - falso mito de um tesouro submerso (Parte 1)


Texto de Dalton Delfini Maziero

A Corrente de Huáscar alimentou durante muito tempo a imaginação dos caçadores de tesouros. Supostamente feita em ouro, esse objeto alcançaria 200 metros de comprimento, ocupando lugar privilegiado na praça da antiga capital incaica, Cusco. Este cobiçado objeto havia sido realmente jogado no fundo do lago Titicaca? Seria real, ou fruto da imaginação prodigiosa dos conquistadores espanhóis?


Estátuas de ouro, oferendas em prata, objetos sagrados. Peças de arte com incalculável valor. São tantos os tesouros supostamente lançados nas profundezas do lago Titicaca, que se fossem todos verdadeiros, certamente fariam seu nível d'água subir. As lendas sobre tesouros submersos parecem ser tão ou mais antigas que a própria conquista espanhola em terras incas. Podemos acreditar em tais histórias?
Por acaso elas não seriam apenas fruto da mente imaginativa dos antigos conquistadores e de seu desejo por ouro? O que teria levado tantos homens a perderem suas vidas em busca de tais riquezas?

Os pesquisadores de tesouros - antigos e modernos - apoiam-se na tradição oral, e nas já conhecidas anotações feitas pelos cronistas, cléricos e viajantes que estiveram na Cordilheira Andina em meados dos séculos XVI, XVII e XVIII. Uma dessas passagens, muito citadas, é a do padre Alonso Ramos Gavilán. Em sua obra, História de Nuestra Señora de Copacabana (1621), ele escreve: "Índios muito velhos, certificaram que assim como moradores da ilha (Ilha do Sol), entenderam que com tanta ansiedade, buscavam espanhóis prata e ouro, a esconderam e que na lagoa lançaram grande parte do tesouro que ali havia. Eu bem imagino, que de quando em quando, tiram os caciques alguma prata e ouro, ainda que nunca se há podido com eles...fazer-lhes que descubram algo do muito que foi escondido." Mas antes de Gavilán, certamente já existia uma tradição sobre objetos atirados ao lago. Uma pratica religiosa que vinha de antigos povos pré-incaicos, como os Chiripa, Tiwanaku e Pucara, como nos revelaram recentes achados arqueológicos, mencionados adiante.

A primeira notícia documentada que temos sobre uma tentativa de resgate dessas riquezas do Titicaca, nos leva ao ano de 1541. Hernado Pizarro, irmão do conquistador Francisco Pizarro, ao saber dos comentários dos emissários Diego de Aguero e Pedro Martínez de Mogue, que haviam avançado terra adentro, com o objetivo de descobrirem sobre a existência de um grande lago, enviou um grupo para encontrar peças que supostamente estariam submersas. Hernando nada achou - como muitos depois dele - perdendo ainda dez homens que morreram afogados.

Mas teriam esses boatos e lenda surgidos ao mero acaso? Certamente que não, pois eles provém de um fato real. Era comum, desde os tempos pré-incaicos, praticar oferendas aos deuses da região, entre eles Kupakati, senhor das águas. Os objetos - constituídos de pequenas estatuetas de ouro e prata, cerâmica, ossos e ervas - eram depositados dentro de um recipiente escavado em pedra, e abaixados com o auxilio de cordas, até o fundo do lago. Esse tipo de oferenda era muito comum nas proximidades da Ilha do Sol, prática que começou a ser realizado muito antes da chegada dos incas ao local. Alguns desses recipientes feitos em pedra foram resgatados e podem ser vistos hoje no Museu Arqueológico da Ilha do Sol, juntamente com as peças encontradas em seu interior.

A partir desse ponto - o das oferendas -, os boatos cresceram, entrando para o imaginário popular; criando lendas imortais que continuam a mexer com a imaginação do viajante menos avisado.

Comentários

  1. Sou radiestesista com sensibilidade para descobrir peças metálicas enterradas há muito tempo, com uso do pêndulo, bússola e gps. Procuro equipe para pesquisa. Glademir Coelho:coelhogp@ibest.com.br

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