Pucara, os degoladores de cabeças (Parte 1)





Texto de Dalton Delfini Maziero
(Diário da Expedição Titicaca, 1997)

Pucara passa desapercebida pelos turistas que seguem do Titicaca em direção a Cusco. Seu povoado moderno - pequeno e sem atrativos - guarda uma imponente pirâmide que rivalizou com as maiores estruturas de Tiwanaku. Representante de um povo guerreiro, essas ruínas encontram-se, em sua maior parte, soterradas.

As ruínas de Pucara são impressionantes, além de muito importantes para a história local. Segundo Therese Bouysse-Cassagne, esta cultura teria surgido por volta de 1100 a.C. e decaído próximo ao ano 100 d.C, influenciando, em vários aspectos, outros grupos da região do Titicaca. Os pucaras formaram uma nação expansionista muito antes dos incas! Para você chegar até estas ruínas, basta pegar a ruela, que sai ao lado da igreja de Santa Isabel de Pucara, e andar pouco menos de 1 km. Elas ficam ao lado da cidade. O local exige certa imaginação do viajante para reconstruir, mentalmente, seus edifícios, praças e pirâmides. A visita deve ser feita com paciência, pois, suas ruínas espalham-se por grande extensão no pampa à frente e pela montanha, atrás do complexo principal.

Isto é bastante pessoal, mas desde o momento em que cheguei a este complexo arqueológico, senti uma sensação de opressão. Parecia que estava sendo observado constantemente e que, a qualquer momento, sairiam do alto da fortaleza, guerreiros pucaras para reclamarem seu espaço, assim como no passado. Não sou místico, mas pressenti alguma coisa estranha no ar.

No complexo arqueológico de Pucara foram realizadas escavações e descobertas várias pirâmides. Uma delas, inclusive, situava-se dentro de um lago artificial! Deve ter formado uma visão impressionante. Ao todo, foram identificados seis desses monumentos, sendo a pirâmide de Kalasaya, com 32 metros de altura, o maior deles. Era um enorme templo, mas com aspecto de fortaleza, por causa de suas muralhas. Parece ter tido uma função defensiva também. Sua base é enorme, mede cerca de 300 metros por 200. Os indícios arquitetônicos de Pucara atingem, aproximadamente, 8 km quadrados a partir desta pirâmide central. É uma pena que está tão abandonada. Se fosse restaurada por completo, certamente, seria uma das maiores atrações da região, nada devendo a outros sítios, como Sillustani ou Tiwanaku.

Do alto do Kalasaya, fiquei olhando o vasto campo a minha frente e pude notar uma série de montículos e pequenas elevações. Em arqueologia, isso é um forte indício de ruínas soterradas! Alguns deles são bastante avantajados e, certamente, formaram pirâmides ou templos no passado. Andei ao redor desses montes imaginando as maravilhas que deveriam estar enterradas. Quantas estátuas, cerâmicas e artefatos não poderiam ser encontrados ali? Pucara ainda está para ser escavada. Não tenha preguiça de caminhar nesta visita. Exija esforço de suas pernas e explore tudo o que puder. A beleza da região está em seus detalhes.

Ainda no topo da pirâmide, distingui não apenas um, mas três templos semi-subterrâneos! São construções que foram utilizadas com a finalidade de culto, na antiguidade. Imagine uma piscina vazia, com uma escadaria de acesso, ladeada de pedras em seu interior. Isso é um templo semi-subterrâneo. Para se ter uma idéia do que ele representa, basta dizer que, as mundialmente famosas ruínas de Tiwanaku (que conheceria mais tarde) fazem o maior sucesso por ter um único templo neste gênero!

Definitivamente, Pucara só não é mais famosa por falta de divulgação e conservação, pois, tem um enorme potencial turístico. Caminhei dentro desses templos e os circulei observando, cuidadosamente, a posição de suas pedras. Existiam escadarias ainda soterradas, canaletas de água, pedras em formato enigmático (com possível função astronômica) e construções que, em minha opinião, faziam parte de um espaço onde os sacerdotes executavam suas orações e sacrifícios. Eram como pequenos quartos ao fundo da praça que constituía o templo, propriamente dito. No interior deste, três câmaras projetavam-se para dentro do solo. Difícil imaginar sua função.

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