Memória que precisa ser preservada

Atualmente, mesmo os dados sobre a evolução humana fornecidos pelo registro fóssil demonstram diversidade entre as espécies da tribo Hominini (Orrorin, Ardipihecus, Australopitecus e Paranthropus) e a Subtribo Hominina (Homo – humanos). Tanto os dados fósseis quanto os dados genéticos apontam para a origem dos humanos modernos Homo sapiens na África ao redor de 160.000 A.P. (antes do presente).

A cronologia atualmente é obtida por métodos de datação absoluta. Os dados arqueológicos demonstram que a ocupação das Américas foi mais recente que os outros continentes ao redor 20.000 A.P. (Monte Verde, Chile, 17.000 A.P.) mas que poderia ter ocorrido ao redor de 30.000 A.P. quando o mar estava mais baixo possibilitando a passagem pelo Estreito de Bering.

No Brasil, as datas mais antigas com segurança se situam ao redor de 12.000 A.P.. As que ultrapassam este limite são discutíveis de ponto de vista científico. Em Joinville, nas proximidades do polo industrial da cidade, na área de expansão do aterro sanitário, estamos pesquisando uma cultura de caçadores coletores de 6.500 A.P. (datação com calibro C14) definidos socialmente como bandos nômades que produzem, normalmente, dois tipos de assentamentos que são as bases residenciais e os acampamentos.

As bases residenciais são definidas como locais de atividades múltiplas, e os acampamentos são locais de atividades especializadas. Isto significa que, para se definir arqueologicamente estes tipos de sítios arqueológicos, os instrumentos devem indicar que atividades estavam sendo realizadas no local, múltiplas ou especializadas.

Ao que tudo indica, as evidências estão mostrando que estamos escavando uma base residencial localizada aproximadamente a 2 km do mar na época de sua ocupação final que pode ser mais antiga que 7.000 A.P. (estamos aguardando novas datações dos níveis inferiores). Antes da chegada dos europeus, o país inteiro era ocupado por nativos. Documentos históricos sugerem que o Francês Capitão Gonneville aportou em 1504, possivelmente na Ilha de São Francisco, SC, nas proximidades de Joinville, onde permaneceu por seis meses, entrando em contato com os nativos locais cujo chefe era chamado Arô Içá.

Os primeiros contatos foram amistosos pois os navios apenas atracavam para reparos e trocas de mercadorias para reabastecimento. Com a implementação da ocupação colonial, em algumas décadas, a população da costa foi quase totalmente exterminada por doenças e pela escravidão.

Hoje, em Santa Catarina, três etnias ainda sobrevivem ao impacto colonial: os Xokleng, os Kaingang (Gês do Sul) e os Guaranis (Tupiguarani). A arqueologia tem resgatado a memória do passado destas populações e seus ancestrais e, infelizmente poucos sítios arqueológicos destes povos são conservados e musealizados, como são os muitos sítios históricos que preservam a memória de outras etnias em território nacional. As classes dominantes se entretém com com o turismo ecológico, compras e gastronomia, mas ainda não valorizam a cultura do outro ou a cultura dos museus arqueológicos como fonte de informação e investimento (turismo cultural), haja visto a pequena quantidade e as condições em que se encontram os museus de arqueologia pré-histórica no Estado e no País. Será que além de antropocêntricos, somos ainda etnocêntricos?

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3121424.xml&template=4187.dwt&edition=15980§ion=1361 (28/11/2010)

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